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RUY CASTRO
Moralismo em massa
RIO DE JANEIRO - Sobre a mania
de agrupar países, times de futebol
etc. em G4, G8, G20, o presidente
Lula disse outro dia, em Goiânia:
"Crie um G que o Brasil está dentro.
Não tem país mais preparado para
achar o ponto G que o Brasil". Risos
na plateia. Pouco depois, referindo-se à interrupção das obras de uma
estrada para evitar a extinção de
uma perereca rara, declarou, galhofeiro: "Graças a Deus! Perereca não
pode se extinguir nunca!". Na fila
do gargarejo, senhoras davam cambalhotas de êxtase.
Vindas de Lula, duas referências
vaginais num discurso passam com
suavidade pela opinião pública. Os
mais formais deploram a chulice, e
só. Outros riem, contam para o colega de repartição, que também ri, e
vida que segue. Mas imagino como
seria se tivessem sido ditas nos
EUA pelo presidente Obama -o
Congresso, a mídia e o país entrariam em erupção.
É o que concluo ao acompanhar o
escândalo em torno do golfista Tiger Woods. Em dois meses, ele passou de herói nacional à condição de
absoluto pária, repudiado pelos patrocinadores, pela publicidade e pela sociedade por prática de galinhagem compulsiva.
E não adiantam as autoflagelações a que está se submetendo.
Quanto mais pedir desculpas pela
televisão, mais ficará marcado por
ter feito sexo fora do casamento
com cerca de 20 mulheres. Mas o
que me espanta é ter sido sexo pago,
e muito bem pago. Pensei que lhe
bastasse ser Tiger Woods para ser
irresistível.
No Brasil, jogadores de futebol,
cantores e políticos, casados ou
não, têm uma vida sexual diante da
qual Tiger não pegaria nem aspirante. Alguém dirá que o brasileiro
é hipócrita, porque finge que não
vê. Talvez. Mas não é preciso ter lido Freud para desconfiar desses
moralismos em massa, que crucificam alguém por realizar as fantasias de milhões.
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