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PALPITE DEMAIS
Apenas um Congresso que não
se dá ao respeito deixa passar
incólume um ataque como o desferido pelo ministro do Trabalho, Luiz
Marinho, na terça-feira. A pretexto
de cobrar a aprovação do projeto de
lei que institui o novo salário mínimo, saiu-se com o seguinte insulto:
"Tá faltando o pessoal trabalhar
mais. Eles perdem muito tempo com
assuntos, como a CPI dos Bingos,
que não acrescentam valor para a sociedade brasileira".
Não houvesse aí uma inaceitável
afronta à autonomia do Legislativo,
proferida de resto em linguagem imprópria, seria de questionar o que,
no oceano de sabedoria de Marinho,
"acrescentaria valor" à sociedade
brasileira. O ex-presidente da CUT
parece entender que apurar as suspeitíssimas relações entre seu colega
da Fazenda e lobistas de Ribeirão
Preto não "acrescenta valor" -de fato, se conluio houve, foi para subtrair
valor ao contribuinte.
Não é a primeira vez que o ministro
extrapola as suas funções para emitir
conselhos em tom de ameaça.
"A oposição que tome juízo", declarou no ano passado, cobrando a
votação do Orçamento. Meses antes,
o sábio do Trabalho admoestara o
Conselho Monetário Nacional sobre
os juros de longo prazo: "Espero que
o CMN tenha juízo suficiente para
iniciar o processo de redução da
TJLP". Marinho, vê-se, tem apreço
especial pela palavra "juízo".
O ajuizado titular do Trabalho -a
quem vai caber o malabarismo contábil de "demonstrar" que Lula cumpriu a promessa de criar 10 milhões
de vagas- faria melhor em evitar
palpites na esfera de atuação de outro
Poder. As prioridades da CPI dos
Bingos e as do Legislativo não lhe
concernem, e um mínimo de cuidado na linguagem é obrigação de um
ministro de Estado.
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