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FERNANDO GABEIRA
Aos que estão por vir
RIO DE JANEIRO - Na crista da
crise mundial, sopram ventos de
mudanças. No norte, banqueiros e
executivos tornam-se vilões. Aqui,
políticos sofrem um bombardeio.
Pelos seus traços fortes, caricaturais, os Parlamentos são alvo predileto. É perigoso concentrar só neles. Às vezes, acho que o governo escapa, sobretudo porque é um grande anunciante. Mas, pensando melhor, não é esse o ponto.
O caso dos cartões corporativos
ganhou grande espaço. Tanto ele
como o escândalo das passagens
são de fácil entendimento. Licitações, editais, relações com ONGs
são temas ásperos, que não se reduzem a falas de 30 segundos nem se
traduzem na linguagem visual.
O que dizer da transparência no
Judiciário, no Ministério Público?
Não há demanda para saber como
se comportam juízes e procuradores nem como é gasto o dinheiro
com eles.
Não são eleitos pelo voto popular.
Independem dessa confiança básica, renovável. Com suas limitações,
o processo que o avanço social e técnico deflagrou é a semente dos novos tempos. Na internet e entre os
leitores, a sensação é a de que todos
os políticos são iguais e deveriam
desaparecer. É um equívoco. Depois de uma explosão nuclear, nem
todos desaparecem: as baratas sobrevivem. Um Congresso fantasma
ou um Congresso fechado não interessam à democracia. Vale um esforço para ajustar sua conduta agora e renová-lo em 2010. Quem dá
um passo à frente?
A sociedade avançou, a política
envelheceu. É uma crise de crescimento da democracia. Jamais alcançaremos a perfeição. Mas vai
melhorar. E os que estão por vir, como no poema de Brecht, serão compreensivos com os tempos sombrios que vivemos.
Resta trabalhar para que a energia dos escândalos não esgote a busca de soluções. Devem andar juntas,
como luz e sombra.
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