|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
No escuro e sozinho
SÃO PAULO - É absoluta e absurdamente notável a rapidez com que
evolui o quadro político brasileiro.
Não faz muito, dava-se de barato que
o presidente Fernando Henrique
Cardoso seria um grande eleitor em
2002.
Ontem, no entanto, o prefeito do
Rio, Cesar Maia, escrevia para esta
Folha dizendo que sentia no ar um
cheiro de 1989, daquela inusitada
campanha eleitoral em que havia
mais de 20 candidatos à Presidência,
se a memória não me trai, mas não
havia um único que defendesse o governo (do presidente José Sarney).
Tanto que o ganhador (Fernando
Collor) foi justamente o que se mostrou mais desabrido nas críticas ao
governante de turno.
Cesar Maia costuma ser um excelente analista político, suspeito que
melhor até do que administrador.
Claro que, como participante do jogo
que analisa, tem seu viés, mas é perfeitamente possível isolar as partes
enviesadas e aproveitar a análise.
Talvez seja cedo para imaginar um
cenário eleitoral em que FHC fique
como Sarney, espectador mudo e distante da própria sucessão, impossibilitado, pelo elevado desprestígio, de
dar qualquer palpite. Afinal, ao contrário de Sarney, que fracassou nas
várias tentativas de controlar a inflação, FHC tem esse mérito em seu ativo, ainda que o Plano Real tenha sido
lançado na gestão de seu antecessor,
Itamar Franco.
O problema é que o grau de irritação com o presidente, que já vinha
crescendo com os sucessivos escândalos, explodiu de vez com a crise energética. Não me lembro de ter recebido
tantos e tão indignados e-mails como
nos últimos dias.
Até pensei que cessariam, ou ao menos diminuiriam, após a primeira leva, quando as medidas do apagão foram anunciadas. Que nada.
Como o apagão nem sequer começou, dá para suspeitar que a hipótese
levantada por Cesar Maia, a de um
governo sem candidato, tenha deixado de ser uma total improbabilidade.
Texto Anterior: Editoriais: A ÚLTIMA DO TALEBAN Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Todos contra um. Aliás, dois Índice
|