São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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CLÓVIS ROSSI

No escuro e sozinho

SÃO PAULO - É absoluta e absurdamente notável a rapidez com que evolui o quadro político brasileiro. Não faz muito, dava-se de barato que o presidente Fernando Henrique Cardoso seria um grande eleitor em 2002.
Ontem, no entanto, o prefeito do Rio, Cesar Maia, escrevia para esta Folha dizendo que sentia no ar um cheiro de 1989, daquela inusitada campanha eleitoral em que havia mais de 20 candidatos à Presidência, se a memória não me trai, mas não havia um único que defendesse o governo (do presidente José Sarney).
Tanto que o ganhador (Fernando Collor) foi justamente o que se mostrou mais desabrido nas críticas ao governante de turno.
Cesar Maia costuma ser um excelente analista político, suspeito que melhor até do que administrador. Claro que, como participante do jogo que analisa, tem seu viés, mas é perfeitamente possível isolar as partes enviesadas e aproveitar a análise.
Talvez seja cedo para imaginar um cenário eleitoral em que FHC fique como Sarney, espectador mudo e distante da própria sucessão, impossibilitado, pelo elevado desprestígio, de dar qualquer palpite. Afinal, ao contrário de Sarney, que fracassou nas várias tentativas de controlar a inflação, FHC tem esse mérito em seu ativo, ainda que o Plano Real tenha sido lançado na gestão de seu antecessor, Itamar Franco.
O problema é que o grau de irritação com o presidente, que já vinha crescendo com os sucessivos escândalos, explodiu de vez com a crise energética. Não me lembro de ter recebido tantos e tão indignados e-mails como nos últimos dias.
Até pensei que cessariam, ou ao menos diminuiriam, após a primeira leva, quando as medidas do apagão foram anunciadas. Que nada.
Como o apagão nem sequer começou, dá para suspeitar que a hipótese levantada por Cesar Maia, a de um governo sem candidato, tenha deixado de ser uma total improbabilidade.


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