São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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CORRUPÇÃO SEM FIM

É sempre uma tarefa difícil aferir o grau de corrupção de um país ou de uma administração pública. O mais perto que se pode chegar é medir a percepção da corrupção, como o faz a organização não-governamental Transparência Internacional com base em questionários aplicados a agentes econômicos que atuam em diversos países.
O levantamento de 2003 mostrou que a imagem do Brasil permaneceu inalterada nos últimos seis anos, em patamares "relativamente altos" de corrupção. O índice classifica o grau de corrupção dos países numa escala de 0 a 10, na qual 10 corresponde ao menor grau de corrupção percebido e 0 ao maior grau. O índice brasileiro é 3,9. A pesquisa, obviamente, é indicativa e tem aspectos que podem ser questionados.
É inquestionável, porém, que a corrupção e a fraude no país são um grave problema. Basta abrir as páginas dos jornais para constatá-lo. Dois casos de monta chamaram a atenção na semana passada: as irregularidades na varrição e coleta de lixo em São Paulo e o escândalo envolvendo empresas e funcionários do Ministério da Saúde em licitações fraudulentas para compra de hemoderivados.
Como de costume, o que se observa é o conluio entre funcionários governamentais e representantes da iniciativa privada, com vistas à rapinagem do dinheiro público. É evidente que os casos devem ser apurados com rigor e os responsáveis punidos. Nada mais nocivo nesses casos do que a sensação de impunidade. O que mais inquieta, porém, é a hipótese, mais do que provável, de que esses casos de grande repercussão são apenas a ponta do iceberg.
A conquista de um estágio mais ético e transparente não é algo que se obtenha de uma hora para a outra. Para que se possa caminhar em sua direção, é preciso que o poder público e a sociedade não transijam com a deletéria cultura das comissões, dos "jeitinhos" e dos golpes contra o patrimônio público que, lamentavelmente, ainda graça no país.


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