São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

O primeiro turno de 2006

SÃO PAULO - José Serra lidera o páreo da eleição paulistana, é de longe o menos rejeitado dos candidatos que contam e bate a todos num segundo turno, diz o Datafolha. Mas os tucanos devem colocar as carecas de molho, pois a eleição não começou. Por ora, está aberto só o mercado de coalizões, de tempo de TV e de aluguel de candidatos nanicos.
Os eleitores se ocupam do voto lá por agosto. Fazem-no tanto mais perto da eleição quanto mais velha fica a democracia, quanto menor a expectativa de que a escolha de governos se reflita em mudanças na vida real e menor a ansiedade de varrer o sistema político motivada por explosões de penúria. É o nosso caso. "A aparência das coisas coagulou-se em desesperado hiato", como dizia um verso de Jorge de Lima.
Eleição é rotina (a de outubro será a 11ª pós-ditadura). Há tranqüilidade institucional (Collor caiu faz 12 anos). A ruína econômica tem sido gradual, em vez das hecatombes recessivas de 1981-83 e 1990-92.
Ainda não dá para apostar nos cavalos, mas o Datafolha diz coisas. Os mais ricos e instruídos é que fazem Serra bater Marta Suplicy e Paulo Maluf (no voto dos pobres, os três empatam). Se a direita deixar a disputa, Serra recolhe seus votos.
Marta terá para mostrar escolas e ônibus melhores, muita bolsa de assistência social e avenidas novas para os ricos, que parecem irritados com a prefeita. O "Martaxa", justo ou injusto, pegou ou já será o efeito Lula?
Será divertido ver tucanos e petistas se acusarem de estelionato eleitoral -será tudo verdade. Mas a mentira do PT está mais fresca, assim como mais podre seu odor de santidade, seus corruptos federais, seus amigos em ONGs e consultorias agregadas às suas prefeituras, aquelas conquistadas na onda rosa de 2000.
Serra pode fingir que nada tem a ver com desastres da década tucana e terá de responder pelo crime na cidade, pois a polícia é de Alckmin.
A não ser que o governo Lula ressuscite ou o povo resolva explodir, duas improbabilidades, é assim que começam em São Paulo duas eleições: 2004 e 2006.



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