|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Entre céticos e ufanistas
RIO DE JANEIRO - Entre as reações provocadas pela viagem de Lula à
China, dois extremos sobressaem.
Existem os que, no embalo de um
certo ufanismo da propaganda governamental na TV, vêem nos negócios e na parceria com o "gigante"
asiático a salvação da lavoura. No
pólo contrário, há os céticos, sinceros
ou interessados, para os quais a caravana brasileira não passa de uma fuga, uma tentativa de exaltar por intermédio da política externa êxitos
que andam em falta dentro do país.
As duas reações exploram um diagnóstico que tanto Lula quanto seu
antecessor já fizeram dos brasileiros:
para o presidente, somos um povo
com baixa auto-estima; para FHC,
somos caipiras. (Curioso é que, às vezes, Lula mostra pouca auto-estima,
como na reação desmedida à matéria ridícula do jornalista do "NYT",
enquanto FHC, provincianamente,
olha o próprio umbigo quando solta
ironias sobre um suposto excesso de
ousadia na diplomacia atual.)
Do lado dos céticos, predominam
dúvidas em relação à influência possível do Brasil no mundo. O país só
responde por 1% das exportações
mundiais, perdeu há algum tempo o
posto de 10ª economia e não é uma
potência militar. Não dispõe, portanto, de recursos de poder para liderar
nenhuma articulação internacional
e está fadado a levar em algum momento uma rasteira dos chineses.
Já os eufóricos se apegam à expectativa de uma força exterior que nos tire do atraso ou nos venda barato a
fórmula do progresso, com a China
tomando o lugar que alguma vez já
foi da Europa, dos EUA ou dos investimentos estrangeiros em geral.
Oscilar entre esses dois estados de
espírito tem sido uma forma bem
brasileira de não sair do conformismo. Mas, nesse caso, não tem jeito: a
longo prazo, a política externa e a interna só dão certo quando se complementam e se combinam. Se o país
quiser ver resultados duradouros da
expedição ao Oriente, terá de apostar
mais alto também aqui dentro.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Os coadjuvantes de São Paulo Próximo Texto: José Serra: O avesso do avesso Índice
|