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CLÓVIS ROSSI
Política, polícia, civilização
PARIS - A versão para internet
desta Folha trazia ontem, sob a vinheta "Brasil", 27 notícias, fora colunas. Vinte e três tratavam de corrupção. Duas também se referiam a
assunto policial (o caso do vôo
1907). Sobravam, portanto, duas
magras notícias que não tinham relação com corrupção. Tem sido assim faz tempo -meses, talvez anos.
Não se faz mais política no Brasil.
Política séria, política com pê
maiúsculo. Ou talvez nunca se tenha feito, mas, ao menos, antigamente o pessoal se lambuzava com
alguma classe.
Apesar da lambança, algumas autoridades, meia dúzia de baba-ovos
sempre prontos a aplaudir o que faz
o governo e uma dúzia de apostadores, festejam a perspectiva de que o
Brasil seja finalmente elevado ao
chamado grau de investimento.
Significará, para os cultores de fetiches, que é mais seguro que nunca
investir no cassi... ôps, no Brasil.
Ótimo que seja assim, mas você
aí que tem pouco ou nenhum dinheiro para investir no que quer
que seja, me responda rapidinho:
1 - É seguro viver no Brasil sem
guarda-costas, carro blindado, armas pesadas na mão?
2 - É seguro educar o filho no
Brasil, exceto em meia dúzia de escolas privadas de excelência?
3 - É seguro levar o pai, a mãe, o
filho ou você próprio a um hospital
público?
4 - É seguro viajar ou levar carga
por qualquer estrada?
5 - Qual a segurança que você
tem de que, em recorrendo à Justiça, seu caso seja resolvido antes de
sua morte, mesmo que o processo
comece com você ainda jovem?
A lista poderia prosseguir até esgotar o espaço (este e os dos dois
companheiros mais abaixo).
São pontos que só podem ser enfrentados fazendo política, goste-se
ou não. Como a política virou caso
de polícia, pode-se até ganhar grau
de investimento, mas a civilização
continuará passando ao largo do
Brasil.
crossi@uol.com.br
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