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CARLOS HEITOR CONY
Operação Navalha
RIO DE JANEIRO - O pomar ficava entre os recreios das divisões de
alunos do seminário onde estudei.
Era época das laranjas e tangerinas,
que eram roubadas não se sabia
bem por quem -provavelmente
por alunos de uma ou outra divisão.
Foram criados dois grupos clandestinos para apurar quem estava roubando o pomar.
De um lado, os "punhais", que desejavam fazer justiça com as próprias mãos. Montaram um esquema de investigação onde valia tudo.
Do outro lado surgiram os "garruchas", que investigavam os investigadores. Os ânimos se exaltavam,
um punhal não podia falar com um
garrucha nem mesmo na hora do
terço e das ladainhas.
Foi então que surgiram os "navalhas". À primeira vista, pareciam
agentes duplos, à cata da estratégia
dos grupos adversários. A comunidade, que até então vivia pacificamente, ficou cindida em dois exércitos que se combatiam entre si e
num terceiro exército que se infiltrou nos dois. A confusão foi geral, e
as laranjas e as tangerinas aí mesmo
é que continuaram sumindo.
Com o pomar devastado, aos
poucos, os exércitos foram desmobilizados, punhais e garruchas fizeram um armistício e se voltaram
contra os navalhas, tidos e havidos
como dedos-duros, espiões dos superiores, que não sabiam como terminar com aquela guerra em defesa
das laranjas e tangerinas.
Não havia mais por que brigar,
uma vez que o pomar ficara em escombros. Mas os navalhas institucionalizaram a caça às bruxas que
haviam roubado enquanto havia alguma coisa digna de ser roubada.
Bem, foi com espanto que fiquei
sabendo da Operação Navalha, feita
pela Polícia Federal e que resultou
na prisão de gente importante que
roubava do pomar público. Quem a
batizou de "Navalha'? Onde estão os
punhais e garruchas nessa história
toda?
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