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CLÓVIS ROSSI
Já não tão único
SÃO PAULO - Por fim, personalidades políticas que são do mais puro "mainstream" descobrem o óbvio: "Os mercados financeiros não
podem nos governar".
É o que diz carta enviada a Nicolas Sarkozy, que, como presidente
da França, está na iminência de assumir a presidência de turno da
União Européia, e a José Manuel
Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, o braço executivo
do conglomerado de 27 países que,
se fossem um só, seria o mais rico
do mundo.
O texto leva a assinatura, entre
outros, de ex-primeiros-ministros
da Alemanha (Helmut Schmidt), da
Suécia (Göran Person), da Itália
(Massimo d"Alema) e da França
(Lionel Jospin). Tem apoio de Felipe González, o líder espanhol que
levou seu país a integrar-se à Europa, condição sine qua non para o
"boom" que trouxe a Espanha para
a linha de frente do mundo rico.
Não são, pois, alienígenas exóticos nem podem ser chamados de
jurássicos. Diria até que alguns deles são o mais próximo de estadistas
que o mundo moderno foi capaz de
produzir, avaro que é na fabricação
dessa rara estirpe.
O documento diz que "o problema está no modelo atual de governo
econômico e das empresas, baseado
em uma débil regulamentação, com
um controle inadequado e uma
oferta demasiado débil de bens
públicos".
Menciona ainda "a desigualdade
crescente da renda, ao lado de um
aumento contínuo do capital financeiro". Segundo "El País", que noticiou a carta, "o capital financeiro já
representa 15 vezes o valor do produto interno bruto de todos os países". É possível, e até provável, que
a carta fique apenas em uma pequena notícia de jornal (jogada aliás para a página 22 da edição de quinta-feira).
Mas é um sinal de que o chamado
pensamento único já não é tão único, mesmo na elite do poder político global (ou europeu).
crossi@uol.com.br
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