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RUY CASTRO
Sagas sincopadas
RIO DE JANEIRO - Na semana
passada, uma grande noite de choro
no Rio reuniu mais de 50 músicos
em homenagem a um homem a
quem o Brasil muito deve e que, exceção à regra, tem tido o reconhecimento que merece: o flautista Altamiro Carrilho.
Pelo palco do Vivo Rio passaram
algumas das maiores autoridades
atuais do gênero, como o bandolinista Deo Rian, os violonistas Mauricio Carrilho e João Lyra, o flautista Carlos Malta, a dupla Zé da Velha, trombone, e Silvério Pontes,
trompete, o conjunto Tira Poeira,
os meninos da Orquestra Furiosa
Portátil etc. E o insuperável gaitista
Mauricio Einhorn.
Foi como se, durante três horas, a
história do Brasil pelo choro desfilasse aos nossos ouvidos: dos pioneiros do século 19, como os flautistas Joaquim Calado e Patápio Silva,
o maestro Anacleto de Medeiros e
os pianistas Chiquinha Gonzaga e
Ernesto Nazareth, aos mestres do
século 20, como os flautistas Pixinguinha e Benedito Lacerda, o clarinetista Abel Ferreira, o cavaquinista Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim e tantos mais, dos quais Altamiro é o maior herdeiro vivo. E foi
ele quem, aos 83, fechou o show,
com fôlego, velocidade e imaginação invejáveis.
Assisti-o ao terminar a leitura do
novo livro de Jairo Severiano,
"Uma História da Música Popular
Brasileira - Das Origens à Modernidade". É uma narrativa abrangente,
concisa e didática, como ainda não
se fizera por aqui, dos brancos, negros e mulatos que se fecundaram
uns aos outros e produziram essas
cadências sincopadas, cheias de
bossa, que fixaram nosso caráter
musical.
O livro e o show reforçaram minha convicção de que a música no
Brasil se caracteriza pela bossa,
mais que pelo romantismo. Às vezes, essa bossa parece envelhecer.
Mas, quando acontece, vem alguém
e inventa uma bossa nova.
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