|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A grande Flórida
RIO DE JANEIRO - Pensava em escrever a crônica de hoje sobre a noite de
São João, que antigamente era "a
mais fria do ano". Hoje não mais.
Além disso, a coluna de Clóvis Rossi
no sábado foi magistral, como sempre: ele dá a solução que poderia ser
"a solução final" de todos os problemas que nos afligem.
Malan seria candidato presidencial
por uma coligação de todos os partidos nacionais, Fraga seria vitalício
no Banco Central com direito de indicar o sucessor em testamento, como
se o banco fosse coisa do grupo do
qual faz parte.
Lembrei, modestamente, uma crônica que escrevi em 1965, no "Correio
da Manhã", e que criou uma crise
que me obrigou a pedir demissão ao
Callado e ir embora. O jornal foi informado que se publicasse mais uma
crônica minha, seria fechado, como
de fato o foi, mas já em outro contexto.
Falava-se num tal Ato Institucional
nš 2, que seria assinado naqueles
dias, fechando todos os partidos e radicalizando o regime de exceção até
que, em 1968, com o AI-5, a radicalização chegou ao ponto considerado
ótimo pelos militares.
Fiz um esboço do que seria esse AI-2, cujo artigo primeiro rezava: "A
partir da publicação deste Ato, os Estados Unidos do Brasil passam a denominar-se Brasil dos Estados Unidos".
Nos demais parágrafos, previa que
o dólar seria a moeda oficial do país e
que teríamos o direito de eleger um
governador, pois seríamos mais um
estado da federação norte-americana.
Fiquei alguns anos afastado da imprensa, sem poder escrever nem mesmo no "Mensageiro de Santo Antônio", no qual colaboro até hoje eventualmente.
Mudaram o nome do Brasil, realmente, mas não da maneira que eu
sugerira. O Clóvis vem agora com um
elenco de soluções que estão no imaginário das nossas classes dirigentes.
O Brasil poderia ser uma imensa Flórida, com direito a Disneyworld e a
praias mais bonitas do que Miami
Beach.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Boa notícia para Lula Próximo Texto: Marcio Aith: A coerência de O'Neill Índice
|