São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A grande Flórida

RIO DE JANEIRO - Pensava em escrever a crônica de hoje sobre a noite de São João, que antigamente era "a mais fria do ano". Hoje não mais. Além disso, a coluna de Clóvis Rossi no sábado foi magistral, como sempre: ele dá a solução que poderia ser "a solução final" de todos os problemas que nos afligem.
Malan seria candidato presidencial por uma coligação de todos os partidos nacionais, Fraga seria vitalício no Banco Central com direito de indicar o sucessor em testamento, como se o banco fosse coisa do grupo do qual faz parte.
Lembrei, modestamente, uma crônica que escrevi em 1965, no "Correio da Manhã", e que criou uma crise que me obrigou a pedir demissão ao Callado e ir embora. O jornal foi informado que se publicasse mais uma crônica minha, seria fechado, como de fato o foi, mas já em outro contexto.
Falava-se num tal Ato Institucional nš 2, que seria assinado naqueles dias, fechando todos os partidos e radicalizando o regime de exceção até que, em 1968, com o AI-5, a radicalização chegou ao ponto considerado ótimo pelos militares.
Fiz um esboço do que seria esse AI-2, cujo artigo primeiro rezava: "A partir da publicação deste Ato, os Estados Unidos do Brasil passam a denominar-se Brasil dos Estados Unidos".
Nos demais parágrafos, previa que o dólar seria a moeda oficial do país e que teríamos o direito de eleger um governador, pois seríamos mais um estado da federação norte-americana.
Fiquei alguns anos afastado da imprensa, sem poder escrever nem mesmo no "Mensageiro de Santo Antônio", no qual colaboro até hoje eventualmente.
Mudaram o nome do Brasil, realmente, mas não da maneira que eu sugerira. O Clóvis vem agora com um elenco de soluções que estão no imaginário das nossas classes dirigentes. O Brasil poderia ser uma imensa Flórida, com direito a Disneyworld e a praias mais bonitas do que Miami Beach.


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