São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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TENDÊNCIAS E DEBATES

Somos todos responsáveis



Chegou a hora de nos perguntarmos o que estamos oferecendo aos meninos e meninas que vagam pelas ruas
MILÚ VILLELA

A morte do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, pelas mãos de traficantes dos morros cariocas, em mais um dos aterrorizantes episódios de violência de nosso cotidiano, já se transformou num marco para a sociedade brasileira. O país clama pelo fim da brutalidade e por um controle efetivo por parte da polícia sobre o crime organizado e o crime de varejo, que põem cidadãos e governos em estado de tensão permanente.
Mas o momento também é de reflexão. A morte de Tim Lopes nos obriga a lançar luzes sobre o problema em suas raízes mais profundas. A violência que está tomando conta das cidades brasileiras é multiplicada, em última análise, pela miséria e pela falta de horizonte a que estão submetidos os milhares de jovens das classes marginalizadas.
Sem expectativa de um futuro melhor, um exército de adolescentes e garotos que mal saíram da infância acaba aceitando hoje o crime como a única alternativa disponível para suas vidas.
As cenas a que assistimos estupefatos, recentemente, nas emissoras de televisão, com adolescentes ostentando armamentos pesados em plena luz do dia, vendendo drogas em feiras abertas ao público, sem constrangimento nenhum, vão continuar se a sociedade não atuar para efetivamente mudar o rumo das coisas.
Chegou a hora de darmos um basta à perturbadora realidade que nos cerca. Chegou a hora de dinamizar o que o Brasil tem de melhor, o seu capital humano.
Chegou, enfim, a hora de nos perguntarmos que perspectivas estamos oferecendo aos meninos e meninas que vagam pelas ruas das grandes metrópoles, vivendo de biscates e de grandes e pequenos delitos. Que futuro estamos abrindo para os jovens que sonham com uma profissão, mas que não têm onde buscar orientação e trabalho? Que ações estamos desencadeando para resgatar o contingente de excluídos que vivem sem presente e sem futuro em todo o país?
Transformar essa realidade e responder a essas indagações é tarefa para todos nós. Empresas, organizações não-governamentais, trabalhadores, estudantes, donas-de-casa, todos, enfim, podemos fazer algo para construir um futuro melhor para o Brasil.
Pequenos gestos, como doar algumas horas de nossa semana para o trabalho voluntário numa escola pública próxima à nossa casa, ou dar apoio a um projeto que busque mudar a realidade de uma região carente da cidade, são essenciais para regenerar o nosso tecido social. Mais do que nunca, a solidariedade deve pautar nossas condutas e nossas ações.
O episódio do assassinato do repórter da Globo soa, neste momento, como um convite adicional à mobilização. A união da sociedade civil, do governo e das empresas em torno da responsabilidade social é um dos caminhos mais eficazes de que dispomos para pôr fim às causas da violência. Temos a obrigação moral de sonhar e dar continuidade à luta que tirou a vida de Tim Lopes.

Milú Villela, 55, empresária, é presidente do Faça parte - Instituto Brasil Voluntário, do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Instituto Itaú Cultural.


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