São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006 |
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FERNANDO RODRIGUES Cinismo e publicidade estatal BRASÍLIA - É excelente o debate a
respeito do volume de publicidade
estatal existente no Brasil.
O deputado Alberto Goldman
(PSDB-SP) divulgou uma lista com
gastos de estatais federais em propaganda. No ano passado, essas empresas torraram R$ 1,4 bilhão em
campanhas publicitárias, segundo
dados obtidos pelo tucano.
"Isso foge a qualquer critério de
razoabilidade", reagiu o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin.
Fica, porém, uma dúvida sobre a
indignação seletiva de Alckmin. Em
2002, FHC fez uma maciça campanha em jornais, revistas, rádios e
TVs sobre os oito anos do Plano
Real (a propaganda do "oitão", como ficou conhecida). A brincadeira
foi paga por empresas estatais. Nesse caso, pergunta-se: houve "critério de razoabilidade"?
Agora, a Petrobras fez sua campanha para propagar a quimera da auto-suficiência (o país nunca será independente; sempre será necessário importar determinados tipos de
petróleo e de seus derivados). Pelo
critério tucano, imagina-se, faltou
razoabilidade.
Durante os anos FHC, uma propaganda estatal descobriu um brasileiro engraxate nos EUA. Arrancou do rapaz uma declaração de
amor ao Brasil: disse que voltaria ao
país, pois o real dava a ele a segurança que não tivera no passado. O comercial foi pago com dinheiro público e, como asseveraria Alckmin,
com "razoabilidade".
Cinismo à parte -os tucanos tiveram o cuidado de entregar para a
mídia apenas os gastos petistas, de
2004 para cá-, a discussão é útil
para fixar paradigmas. Admitamos
que o PSDB, contrito, faz hoje um
mea-culpa e promete não produzir
mais esse tipo de propaganda inútil.
Ótimo. Resta agora arrancar de Lula o mesmo compromisso. Difícil.
Essas coisas os políticos só fazem
quando estão na oposição.
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