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CARLOS HEITOR CONY
Golpe de Estado
RIO DE JANEIRO - Quincas, o general-de-brigada Joaquim Osório
de Lima, herói de 1937, quando conseguiu tomar a cantina da Faculdade Nacional de Direito -onde dois
estudantes, depois de uma passeata
de rua, haviam se escondido-, estava ao telefone e comunicava que a
coisa ia para as cabeceiras. Vestiu a
farda e foi para o quartel botar a tropa na rua.
A tropa saiu à rua, houve dúvidas
em seu estado-maior se a banda de
música deveria também sair à rua
-o jeito foi sair sem banda. Os soldados deixaram o quartel, deram
uma volta pelo Campo de São Cristóvão, houve um "alto" para o coronel consultar mapas e saber que direção tomar. Conseguiram chegar
ao cruzamento da avenida Presidente Vargas, onde ficaram sem saber se desciam para a Tijuca ou se
subiam para o centro da cidade.
Estabeleceu seu QG em cima de
um posto de gasolina e ordenou que
localizassem o Quincas, mas ninguém sabia onde estava ninguém,
até que o rádio anunciou que a revolução terminara. Comandou seus
homens de volta ao quartel, mas,
quando se aproximava de São Cristóvão, viu, em sentido contrário,
um regimento vizinho que marchava também, com garbo.
E agora? Quem tinha ganho a revolução? Enquanto procurava inspiração para resolver o problema,
seus homens cruzaram com os homens da tropa vizinha, cada qual
olhando para a frente, sem tomar
conhecimento da tropa do lado. Então ele tomou a iniciativa de não fazer nada. Quando cruzou com o outro comandante -um coronel gordo, que ele sabia apenas se chamar
Aristarco- trocou a continência regulamentar. Teve tempo de perceber que também o outro não sabia
quem tinha ganho de quem.
No dia seguinte, nos jornais, soube que era um herói, arriscara a vida
pela união dos brasileiros e pela integridade do território nacional.
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