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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A nova Reforma da Natureza
SÃO PAULO - O leitor deveria desconfiar da palavra "reforma". Ela se
tornou peça obrigatória das idéias
feitas do vocabulário eleitoral.
Quem gosta de propagandear reformas geralmente não sabe definir
com clareza suas prioridades de governo. Ou, por outra, pretende esconder suas prioridades reais do
debate público.
A versão atual desse fetiche pelo
reformismo remonta à Constituição de 88, que deu garantias sociais
inéditas e engessou a atividade econômica, ambas as coisas (direitos
demais e negócios de menos) na
contramão da era liberal já então
em curso, à qual o país só viria aderir com atraso.
Num registro mais profundo, porém, a reiteração da retórica reformista talvez seja um sintoma da
nossa incapacidade histórica de
promover a única reforma que de
fato importa: a social. Sim, isso também já é um clichê, mas o país segue
girando em falso, cada vez mais indiferente, diante da desiguldade
que permanece inalterada. Valeria
reler sob esse prisma "A Reforma
da Natureza", de Monteiro Lobato.
A campanha presidencial agora
recoloca a reforma política no centro do palco. De compreensão não
muito simples e interesse um tanto
remoto para a maioria das pessoas,
ela tem sido vendida como um (ou
"o") antídoto à corrupção. E por aí
costuma pegar.
Alckmin já disse que ela será um
dos atos iniciais de seu eventual governo. E Lula ainda ontem voltou
ao tema -disse que sem reforma
política os escândalos se repetirão.
Fetiches e falácias. Primeiro: reforma política não é antídoto à corrupção nem aqui nem no Sítio do
Picapau Amarelo. Segundo: não há
consenso mínimo entre os principais partidos nem sobre os termos
da fidelidade partidária. Terceiro:
reforma política é o nome publicável que se quer dar à cooptação e
acordos, uns publicáveis e outros
não, entre o governo e o PMDB.
Lula parece disposto a transformar Renan Calheiros numa espécie
de primeiro-ministro e Sarney em
vice-rei de seu eventual segundo
mandato. E a isso Tarso Genro, o
Rolando Lero do PT, de peito estufado chama de "concertação".
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