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CLÓVIS ROSSI
Um poste chamado Mercosul
SÃO PAULO - Quem fica parado é
poste, ensina José Simão, meu filósofo favorito. O Mercosul está parado há tanto tempo que virou poste
e, como tal, uma inutilidade.
Tornaram-se obsoletas as suas
duas lógicas principais. O Mercosul
proporcionou, de fato, nos seus
primeiros muitos anos, um impulso
nas trocas de mercadorias entre
os países membros, mas o ímpeto
esgotou-se.
A segunda lógica era a contida em
uma canção política da mexicana
Amparo Ochoa, que dizia "juntos/
codo a codo/somos mucho más que
dos". A expectativa era que Brasil e
Argentina, os dois grandes do bloco,
ombro a ombro, se tornassem mais
fortes ante o "concerto das nações",
como diria outro dos meus favoritos, Carlos Heitor Cony, no seu
esforço por resgatar expressões
em desuso.
O fato é que o Brasil conquistou
por direito próprio, independentemente do Mercosul, papel relevante no G14 e nos dois G20 (comercial
e financeiro), gerentes das discussões planetárias (das discussões,
mas não das soluções, o que é outra
história para outra hora).
O Brasil já deixou a Argentina falando sozinha nas negociações da
Rodada Doha, ao aceitar proposta
do mundo rico que os argentinos
recusavam. Não acho que tenha sido uma atitude bonita. Sou dos ingênuos que ainda acreditam em solidariedade dos mais fortes para
com os mais fracos.
O problema é que a solidariedade
está se transformando em abraço
de afogados. O Brasil não consegue
dar certos passos que são de seu interesse sem ser puxado para baixo
por seus parceiros quando os interesses de cada parte divergem.
O único caminho para tirar o
Mercosul da catatonia seria a tal de
coordenação de políticas macroeconômicas, já ensaiada uma e cem
vezes, sem resultados. Fora isso,
nem é preciso enterrar o Mercosul.
Pode ficar por aí como obelisco a
uma boa intenção frustrada.
crossi@uol.com.br
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