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ELIANE CANTANHÊDE
O bispo e o sindicalista
BRASÍLIA - Numa semana de
mais turbulência na política interna e de grandes movimentos na externa, Lula começa hoje, em Assunção, um novo "round" com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
No último, em maio, em Brasília,
um falava "A", o outro ouvia "B", e
ninguém se entendia.
Lula leva um saco de bondades,
com a proposta de triplicar o valor
pago pela energia de Itaipu que o
Paraguai não consome e é obrigado
pelo tratado a ceder ao Brasil. Além
disso, a flexibilização para que parte dessa cota deixe de ser vendida
via Eletrobras e seja oferecida diretamente ao mercado.
Olha a pegadinha: quando o Paraguai pediu a abertura para o mercado, a indústria estava bombando, a
demanda era alta e os preços da iniciativa privada, bem maiores. Esse
movimento da economia se inverteu e, de acordo com a Eletrobras,
os preços também: os de mercado
estão abaixo dos regulados.
A tendência, pois, é a cota para
abertura ao mercado ficar bem reduzida, concentrando as bondades
no forte aumento do preço regulado. E quem paga? Aí é uma outra
história. O lado político-diplomático da negociação defendia uma proposta bem camarada, mas o lado
técnico-pragmático alertou todo o
tempo para o ônus. Agora, todos juram que será do Tesouro, mas há
controvérsias. É bom você, consumidor, ir segurando o bolso. A tarifa
tende a aumentar.
Lula desempatou a queda-de-braço a favor do grupo político-diplomático, ao optar pela proposta
mais favorável aos paraguaios. O argumento é o já usado para Bolívia,
Equador, pobres em geral: a ajuda
do Brasil tem de ser na mesma proporção de sua ambição de liderança
regional.
Só falta agora Lula se entender
com Lugo. Se um tem o traquejo negociador de líder sindicalista, o outro precisa desesperadamente da
boa vontade brasileira para recuperar fôlego político, além de credibilidade pessoal. É desse equilíbrio
que sairá o acordo.
elianec@uol.com.br
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