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JUSTIFICATIVA VOLÁTIL
É bastante interessante a reportagem do diário norte-americano "The New York Times" publicada no domingo passado que mostra como os Estados Unidos apoiaram o governo do Iraque durante a
guerra contra o Irã (1981-1988), mesmo sabendo que Bagdá estava utilizando armamento químico contra as
forças adversárias.
Oficialmente, autoridades da administração Ronald Reagan (1981-1988) criticavam asperamente a utilização de gases tóxicos por ambas as
partes no conflito; na prática, porém,
o governo continuou a oferecer auxílio logístico ao Iraque. É eloquente a
esse respeito a declaração do coronel
Walter P. Lang, hoje na reserva e à
época o oficial mais graduado da
Agência de Inteligência da Defesa
(DIA), o órgão que mantinha o programa secreto de cooperação com o
Iraque: "O uso de gás nos campos de
batalha pelos iraquianos não era
uma questão que provocasse profundas preocupações estratégicas".
Os Estados Unidos não suspenderam o apoio nem mesmo quando o
Iraque usou armas químicas contra
sua própria população civil, no episódio que ficou tristemente conhecido como massacre de Halabja. Em
março de 1988, forças iraquianas
despejaram gases venenosos sobre
separatistas curdos no norte do país.
Àquela altura, a prioridade da Casa
Branca era evitar que o Iraque perdesse a guerra para o Irã, o que poderia colocar em risco vários Estados
produtores de petróleo do golfo Pérsico. Hoje, o presidente George W.
Bush e seus auxiliares afirmam repetidamente que uma das razões que
exigem a derrubada de Saddam Hussein do poder é o fato de o ditador
iraquiano já ter usado armas químicas na guerra contra o Irã.
Que a política externa de potências
como os Estados Unidos se faça com
dois pesos e duas medidas, não chega a ser uma novidade. Mas é raro
que se obtenha uma prova tão contundente quanto a proporcionada
pela reportagem do jornal nova-iorquino de que o discurso de autoridades governamentais de Washington
não corresponde à prática, de que os
interesses econômicos se sobrepõem a tudo o mais.
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