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CLÓVIS ROSSI
Consenso com "sopão"
SÃO PAULO - Os Estados Unidos, ou ao menos um de seus funcionários
graduados, redescobrem a pólvora: o
Consenso de Washington, o conjunto
de receitas ditas neoliberais, fracassou e é preciso repensá-lo.
Refiro-me às declarações de Richard Haas, diretor do escritório de
Política e Planejamento do Departamento de Estado, prestes a chegar ao
Brasil, pronto para receber propostas
para aperfeiçoar o Consenso.
Há um ponto positivo na avaliação
de Haas: a disposição de ouvir. O
Consenso original foi enfiado goela
abaixo nas sociedades por governos
ansiosos por render vassalagem ao
império. Deu no que deu: a América
Latina, principal laboratório do projeto, está em frangalhos.
Mas há também um lado negro,
talvez mais revelador: Haas preocupa-se principalmente em estabelecer
"redes de proteção social" para acalmar a ira de sociedades levadas ao
desespero pela crise.
Convenhamos que políticas compensatórias são apenas um novo e
mais sofisticado nome para "esmolas". Não é disso que se precisa.
Se as políticas públicas assumirem
de saída que parte da população estará condenada ao "sopão dos pobres", já começarão fracassando.
Do que se trata, em especial na
América Latina, é de tentar criar
condições para a inclusão mais ampla possível, para o que se necessita,
sim, de ação vigorosa do Estado
(ponto, aliás, em que coincidem, ao
menos retoricamente, todos os quatro candidatos principais à Presidência da República).
É óbvio que o Estado tão cedo não
vai voltar (se é que voltará algum
dia) a fabricar aço ou a gerir hotéis.
Mas, para repetir Fernando Henrique Cardoso em discurso em Montevidéu, "sem a política, os mercados
também se tornam irracionais".
Tem mais: chega de olhar para o
Norte em busca de "modelitos". Não
é preciso, obviamente, reinventar a
roda se eles já a inventaram e funciona, mas é preciso, sim, pensar também com a própria cabeça.
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