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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A última utopia?

SÃO PAULO - Darc Antônio da Luz Costa, vice-presidente do BNDES, apresenta uma instigante definição de capitalismo: "Capitalismo é sonho mais crédito".
Se fosse só isso, o capitalismo seria de fato beleza pura.
Pois foi a partir dessa idéia-força que o BNDES se tornou a usina e a fonte de crédito, como é óbvio, para que o governo Luiz Inácio Lula da Silva tente o que talvez seja a última utopia disponível no mercado: construir o quarto maior bloco econômico do planeta (a América do Sul).
As idéias que dão impulso ao projeto estão expostas mais adiante, neste mesmo caderno. Confesso que, após anos e anos de retórica integracionista jamais levada à prática, sou cético a respeito, por mais que torça para que dê certo.
Ceticismo à parte, a idéia não é movida apenas pela utopia. Darc Costa lembra que "a América do Sul é auto-suficiente em praticamente tudo".
Lembra também que o Brasil é um pólo econômico importante, por muito que a baixa auto-estima de sua gente faça esquecer dados relevantes. Exemplo: é um mercado para fraldas maior do que o de vários países europeus somados.
Exemplo dois, que só agora descobri: a brasileiríssima marca Skol é a terceira cerveja mais vendida do mundo, atrás apenas de duas norte-americanas.
Não se trata de ufanismo verde-e-amarelo, o único pecado de que não posso ser acusado. São fatos.
Fatos que embalam o sonho de Darc Costa. "No século 19, os Estados Unidos acreditaram que era possível construir um país unindo dois oceanos." Por que o Brasil não pode sonhar sonho parecido?
Já sei que há várias respostas sólidas para desmanchar a utopia. Mas, como dizia Calderón de la Barca, "la vida es sueño, y los sueños sueños son". Melhor tentar pô-los em prática do que apenas render-se a uma realidade nada poética.


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