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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula em Caracas

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai chegar num bom momento a Caracas, amanhã à noite, para uma visita de menos de 24 horas concentrada na terça-feira.
O país do presidente Hugo Chávez andava até meio calmo, depois de meses de greves, tumultos de rua e quedas do PIB. Mas volta a esquentar justamente agora.
Depois de recolher -ou dizer que recolheu- 3,2 milhões de assinaturas populares pedindo um referendo para abreviar o mandato de Chávez, a poderosa e difusa oposição ao presidente aguarda para amanhã a decisão da Suprema Corte de Justiça sobre o pedido.
Como a tendência da Corte é acatar os argumentos do governo de que as assinaturas foram fraudadas e o processo de coleta foi ilegítimo, Caracas deve amanhecer na terça-feira em pé de guerra. Mais uma vez.
Enquanto Lula estiver com Chávez e uma penca de ministros depositando flores no túmulo do libertador Simón Bolívar, a expectativa é que, nas ruas, milhares de venezuelanos estarão gritando "fora Chávez" e outros milhares devolvendo com "abaixo a oposição". A Venezuela, como se sabe, está dividida ao meio.
Quando eleito pela primeira vez, em dezembro de 1998, com 56% dos votos, Chávez previa que o continente viveria manifestações populares de grandes proporções contra o neoliberalismo. O que se viu, porém, foram manifestações-monstro contra o estilo Chávez, sua aproximação de Fidel Castro, seus programas de esquerda, sua política de abrir excessivas e simultâneas frentes de confronto.
De certa forma, o venezuelano é um bom protótipo a ser observado. Antes, por brasileiros, argentinos, chilenos e por aí afora. Agora, por Lula e pelos presidentes que tentam caminhos alternativos ao neoliberalismo que varreu o continente na década de 90 e deixa rastros preocupantes.
Chávez tem muito de bom e muito de ruim. Lula pode captar o que ele prega de bom, mas tem obrigação de afastar os fantasmas do que ele exercita de ruim. Eis o segredo.


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