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FATO CONSUMADO
Com a aproximação do início do
plantio para a próxima safra de
soja gaúcha, o governo deve editar
ainda hoje uma medida provisória
autorizando a utilização de sementes
transgênicas. A nova MP terá a presidi-la a mesma lógica da anterior, que
permitiu a comercialização da soja
transgênica cultivada ilegalmente no
país: a do fato consumado.
Esta Folha não se inclui entre aqueles que se opõem por princípio a
transgênicos. Considera necessário
analisar os casos à luz de pesquisas
científicas -que, em relação à soja,
nada comprovam sobre danos à saúde. Defende, ainda, que os consumidores sejam alertados nos rótulos sobre as características do produto.
Não obstante, é patético que decisões desse porte sejam tomadas a
partir de fatos consumados. Um país
que pretende ser celeiro do mundo
não pode permitir que sua política
agrícola defina-se ao sabor do lobby
de multinacionais e de agricultores
que agem em desacordo com a lei.
Há diferenças entre o pragmatismo
e a subserviência a interesses. A liberação ou não da soja transgênica deveria ter sido decidida por instâncias
técnicas e políticas competentes, levando em conta um projeto mais
amplo de biotecnologia agrícola.
Permitir agora o plantio da soja
transgênica -o que já deveria ter sido feito de forma mais organizada-
não deve impedir que as autoridades
passem a trabalhar de modo correto.
O primeiro engano é tratar como
igual tudo o que seja transgênico. Há
muito pouco em comum entre a soja
"Roundup Ready" (resistente ao herbicida glifosato) e o milho Bt (resistente a insetos), por exemplo. Os riscos que cada um deles poderia representar para a saúde humana ou para
o ambiente não são os mesmos.
Igualá-los é endossar a visão dos que
pretendem ou aprovar ou proibir em
bloco os transgênicos.
Que os erros cometidos na novela
da soja transgênica ao menos sirvam
para guiar o país na elaboração de
uma política biotecnológica consistente para a agricultura.
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