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CLÓVIS ROSSI
O ruído e o silêncio
SÃO PAULO - Os eventos desde a Conferência Ministerial da OMC em
Cancún até o discurso do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ontem na
Assembléia Geral das Nações Unidas,
em Nova York, servem de lembrete
para o seguinte: o Brasil é um parceiro importante no jogo comercial global, mas ainda é muito secundário
quando se fala de alta política.
Explico: a ação do Brasil em Cancún, desde que comandou a criação
de um grupo de países em desenvolvimento com interesses opostos ao do
mundo rico em matéria de liberalização da agricultura, esteve no noticiário de todos os meios globais de comunicação.
Já o discurso do presidente Lula,
ontem, não mereceu destaque nenhum (e, às vezes, nem uma linha sequer) nos principais noticiários on-line, seja do espanhol "El País", do britânico "Financial Times", do multifacetado "GoogleNews", do "International Herald Tribune" e por aí vai.
Pior: se um dos objetivos do presidente era defender a devolução do
Iraque aos iraquianos o mais depressa possível, seu colega George Walker
Bush não deu a mínima bola. Depois
da fala de Lula, Bush foi claro: o processo de restabelecimento da autonomia iraquiana "não será nem apressado nem atrasado pelos desejos de
outras partes".
Some-se a essa surdez seletiva a dura crítica ao Brasil feita anteontem
por Robert Zoellick e tem-se um retrato acabado de como os Estados
Unidos se comportam em relação ao
Brasil: elogiam todas as ações do governo, desde que sigam o receituário
que consideram correto. Como fez,
por exemplo, o secretário do Tesouro,
John Snow, com Lula e com o ministro Antonio Palocci.
Mas é só sair um milímetro que seja
da "linha justa" e pronto: lá vem descaso, na hipótese benigna, ou uma
tremenda carga de reprimendas, críticas e ameaças.
Nada disso, a rigor, é novo. Mas é
sempre bom relembrar, para que o
PT e o presidente não caiam na vã
ilusão de achar que o mundo está se
dobrando diante do Brasil só porque
eles chegaram ao poder.
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