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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O ruído e o silêncio

SÃO PAULO - Os eventos desde a Conferência Ministerial da OMC em Cancún até o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem na Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York, servem de lembrete para o seguinte: o Brasil é um parceiro importante no jogo comercial global, mas ainda é muito secundário quando se fala de alta política.
Explico: a ação do Brasil em Cancún, desde que comandou a criação de um grupo de países em desenvolvimento com interesses opostos ao do mundo rico em matéria de liberalização da agricultura, esteve no noticiário de todos os meios globais de comunicação.
Já o discurso do presidente Lula, ontem, não mereceu destaque nenhum (e, às vezes, nem uma linha sequer) nos principais noticiários on-line, seja do espanhol "El País", do britânico "Financial Times", do multifacetado "GoogleNews", do "International Herald Tribune" e por aí vai.
Pior: se um dos objetivos do presidente era defender a devolução do Iraque aos iraquianos o mais depressa possível, seu colega George Walker Bush não deu a mínima bola. Depois da fala de Lula, Bush foi claro: o processo de restabelecimento da autonomia iraquiana "não será nem apressado nem atrasado pelos desejos de outras partes".
Some-se a essa surdez seletiva a dura crítica ao Brasil feita anteontem por Robert Zoellick e tem-se um retrato acabado de como os Estados Unidos se comportam em relação ao Brasil: elogiam todas as ações do governo, desde que sigam o receituário que consideram correto. Como fez, por exemplo, o secretário do Tesouro, John Snow, com Lula e com o ministro Antonio Palocci.
Mas é só sair um milímetro que seja da "linha justa" e pronto: lá vem descaso, na hipótese benigna, ou uma tremenda carga de reprimendas, críticas e ameaças.
Nada disso, a rigor, é novo. Mas é sempre bom relembrar, para que o PT e o presidente não caiam na vã ilusão de achar que o mundo está se dobrando diante do Brasil só porque eles chegaram ao poder.


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