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FERNANDO RODRIGUES
Avanço e retrocesso
BRASÍLIA - O governo recuou da sua posição inicial e propôs ontem uma
reforma bem mais razoável para as
nove agências reguladoras. Valeu a
máxima de Roberto Campos: "A
inexperiência é o único defeito que
não piora com o tempo".
As agências foram criadas no governo FHC. São uma tentativa correta de desatrelar o governo de decisões
técnicas. Os diretores têm mandatos
não-coincidentes com o do presidente da República.
Para resumir, o país entrou na estrada correta -apesar dos defeitos
do sistema, como a pequena estrutura operacional das agências e o salário quase miserável dos diretores.
Lula tomou posse e começou a dizer
que ficava sabendo de aumentos de
tarifas por intermédio dos jornais. O
ministro das Comunicações, Miro
Teixeira, chegou a defender um sistema facilitado para destituir diretores
das agências reguladoras.
Nas propostas apresentadas ontem,
toda essa baboseira inicial foi jogada
fora. Há até avanços, como a unificação da duração dos mandatos dos diretores das agências em quatro anos,
mas com renovação em anos em que
não há eleição para presidente.
Outro aspecto positivo é a sinalização de que o setor de saneamento básico poderá ser regulamentado por
uma agência independente. A falta
de segurança legal nessa área resulta
no crônico baixo investimento.
A parte ruim da proposta do governo é a decisão de retirar das agências
o poder de comandar o processo de licitação e concessão de serviços públicos. Os ministérios voltariam a ter esse poder. É um retrocesso.
Há também conflitos de interesse. O
governo é dono da Eletrobrás e da Petrobras. Segundo a proposta apresentada, o Ministério de Minas e Energia no futuro formatará as concorrências públicas nas quais essas empresas estatais vão concorrer. Um absurdo.
Como o governo teve a boa idéia de
abrir um debate público sobre o tema, é possível que os aspectos negativos sejam escoimados nas próximas
semanas e meses. A ver.
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