RIO DE JANEIRO - Como estão cansados de saber, não há almoço gratuito, quer dizer, tudo tem o seu preço. São duas verdades óbvias, que entram pelos olhos de todos nós, mas, volta e meia, aparece gente querendo comer de graça e não pagando o preço das coisas que consome -muitas vezes sem precisar.
Toda vez que alguém reclama da invasão de sua privacidade, penso no sujeito que, em sinal de protesto ou de apoio a alguma causa ou coisa, andou nu pelas ruas e não queria ser notado, pois julgava-se no direito de exercer a sua privacidade como bem entendia e nada devia aos outros, nem mesmo à polícia, que o remeteu para um hospital psiquiátrico.
O recente casamento da alcaidessa paulistana serviu de generoso pasto para sucessivas invasões de privacidade. Em momentos tais, costumam acusar rapazes e raparigas da imprensa de hienas, que fuçam doentiamente a vida alheia, procurando detalhes que julgam do interesse geral.
Que a sociedade funciona como uma grande comadre, querendo saber mais do que deveria saber, sobretudo quando se trata dos citados "detalhes", é fato sabido e histórico. E nada de mais que haja gente especializada em oferecer bem temperado, como aquele cravo de Bach, tudo o que ela acha que precisa saber.
Quando eu nasci, meu pai não foi para a janela exibir-me em cueiros à multidão. Foi um fato que só a mim interessou, embora não devesse interessar. O mesmo não acontece com os príncipes herdeiros, que, quando nascem, são mostrados ao povo para que todos saibam que, depois de um rei, haverá outro rei.
Evidente que não nasci herdeiro de nada, a não ser da miséria humana de que fala o Brás Cubas. Ninguém tomou conhecimento -nem precisava. Agora, uma figura pública, que vive na vitrina e dela se beneficia, torna-se um pitéu saboroso para a imensa comadre que, vendo um cavalo na chuva, sabe que ele está se molhando.


Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Avanço e retrocesso
Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: O ICMS e a reforma tributária
Índice