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VINICIUS TORRES FREIRE
O que é que a direita tem
SÃO PAULO - Cobrar mensalidade de quem estuda em universidade pública é uma conversinha da direita. Colocar as mensalidades no centro da
discussão política escamoteia o debate maior sobre o destino de todos os
dinheiros públicos.
Decerto parte do ensino superior
gratuito é subsídio para a classe média e alta, assim como as isenções de
Imposto de Renda para saúde e educação. Mas como se arrecada e se reparte o resto, a maioria, dos fundos
públicos? Quem paga a conta?
Impostos indiretos pesam mais na
renda dos mais pobres. Isenções fiscais (legais e ilegais) favorecem os
mais ricos. Fundos públicos bancam
empréstimos subsidiados do BNDES
para megaempresas comprarem estatais, sem retorno social visível.
Parte da previdência social é apropriada pelos mais ricos. Os tribunais
especiais da Receita Federal e do BC
absolvem os muito ricos de variada e
vasta maracutaia. A política monetária é politizada pelo nhenhenhém
dos ricos. Tributa-se demais o emprego e de menos a renda etc.
Seria bom criar um fundo para financiar o ensino universitário, entre
outras medidas para reparar a injustiça, tais como planejar investimentos em saneamento e habitação em
lugar pobre. Mas cobrar mensalidade
mercantiliza o ensino. Faz do estudante um consumidor que se apropria de um bem público. Não dá pé,
embora economistas de direita, ignorantes como são quase todos, não entendam o problema simbólico. Pior,
cobrar mensalidade vai alijar o pobre, que terá de provar que é pobre.
Melhor é cobrar do formado em
universidade pública uma contribuição baseada no salário. O dinheiro
iria para dar bolsas aos melhores estudantes pobres desde o primário e
para melhorar o ensino: equipar laboratórios, pagar mais aos melhores
professores e pesquisadores.
O país é injusto, sim. Mas, quanto a
isso, o governo Lula só repete a demagogia conservadora dos anos FHC,
com a mesma falta de imaginação,
grandeza e noção de bem público.
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