UOL




São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLAUDIA ANTUNES

Bolsa que vira esmola

RIO DE JANEIRO - As escolas secundárias do Rio passaram parte de 2003 sem o quadro completo de professores, e os hospitais estaduais não estão em situação melhor -o Tribunal de Contas, em relatório recente, alertou para o risco de o governo do Estado não cumprir a exigência constitucional de gastar com saúde pelo menos 10,04% da receita com impostos.
Em compensação, a governadora Rosinha manteve e até ampliou programas assistenciais e de complementação de renda, como o Cheque Cidadão e o Restaurante Popular, criados no mandato de seu marido, Garotinho. Para o ano que vem, oito projetos desse tipo serão incorporados ao orçamento da Saúde, manobra autorizada pela Assembléia.
Seria fácil atribuir essa política ao suposto populismo do casal Garotinho se ela fosse restrita ao Rio. Diante de orçamentos apertados, governantes do país inteiro têm optado cada vez mais por aumentar gastos com bolsas de todo tipo em detrimento da estrutura permanente de serviços sociais. As necessidades da população são imensas e imediatas, o retorno é rápido e não se pode exigir de políticos que esqueçam as urnas.
Programas compensatórios existem na maioria dos países, e nem aqueles que têm maior equilíbrio na distribuição de renda puderam abrir mão deles. O problema é que, no Brasil, não há perspectiva de os beneficiários se libertarem. O crescimento medíocre da economia só faz piorar o mercado de trabalho, criando novos necessitados. Enquanto isso, a escola e a saúde públicas ficam estagnadas. Projetos que deveriam ser escada para a ascensão dos muito pobres correm o risco de virar esmola perpétua.
A gravidade da situação aumenta por causa do arcaísmo da administração e da política. Relatórios da Controladoria Geral da União têm mostrado como prefeitos desviam e manipulam em proveito particular doações federais. As bolsas e ajudas afins transformam-se em mais um maná para o clientelismo.



Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O futuro das oposições
Próximo Texto: Boris Fausto: O terrorismo na Turquia
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.