São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.



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INFLAÇÃO BAIXA NÃO BASTA

A tal ponto a inflação brasileira foi satanizada, tantos foram os planos fracassados que, vencido o monstro, era de esperar uma descompressão.
Na prática, entretanto, o fim da superinflação crônica tornou mais evidentes outros demônios da economia, mesmo antes da crise asiática.
Ninguém, em especial os mais pobres, que eram as principais vítimas da inflação, tem saudades do passado. Mas, passado o "boom" consumista, a lista de dificuldades e a escassez de fórmulas consensuais para resolver os problemas só cresceu.
O maior incômodo é a impossibilidade de fazer a economia crescer, dado o temor de desequilíbrios nas contas externas. Mês após mês são divulgados índices baixos de inflação sem precedentes, mas sem euforia.
O IBGE acaba de revelar que o INPC-E registrou o valor mais baixo desde o início da pesquisa em 1979. Em 97, o índice ficou em 4,41%, uma surpresa até para os otimistas.
Para os críticos, seria legítimo até perguntar se não houve exagero na desinflação e se uma taxa um pouco maior não exigiria menos sacrifícios.
Mas, como sempre alerta o ministro da Fazenda, Pedro Malan, a questão é capciosa: quem seria capaz de identificar este "pouco maior" e evitar a recaída nos descalabros que marcaram os planos anteriores?
Além do crescimento baixo, infelizmente necessário, há outros obstáculos até agora sem resposta.
Dizia-se por exemplo que déficit público gera inflação. A dificuldade agora é outra. Afinal, a inflação ajudava o governo a "fechar" suas contas (era o "imposto inflacionário"). Mas uma inflação que se reduz muito mais rápido que o esperado cria, também, exigências ainda mais prementes na busca de alternativas ao imposto inflacionário que desaparece. E elas ainda não surgiram.
Crescer sem gerar inflação e riscos externos ou manter a inflação baixa fazendo um ajuste fiscal eficaz são exemplos cruciantes de problemas para os quais os economistas brasileiros ainda não deram resposta.



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