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Sacrifícios em vão
FERNANDO BEZERRA
O país enfrenta uma situação que
ameaça anular os grandes sacrifícios
que fizemos todos nós, notadamente os
setores produtivos, nos últimos anos,
com o propósito de consolidar a estabilidade monetária.
Para tanto, deveríamos, em tempo
hábil, ter procurado equilibrar as contas públicas. O governo certamente subestimou a necessidade de enfrentar
esse desafio e não soube transmitir à
elite política uma mensagem clara. É
preciso também reconhecer que a responsabilidade não é apenas do Executivo. Nós, parlamentares, agimos como
se fosse possível postergar por mais
tempo aquelas reformas de que dependem o equilíbrio fiscal.
Não adianta muito, agora, averiguar e
apontar culpados. O essencial é nos
darmos conta de que não podemos admitir que se aceite a possibilidade da
volta da inflação. O momento exige
uma opção clara no sentido de impedir
que da liberação do câmbio instaure-se
no país um clima de que estamos no
caminho da reindexação da economia.
De modo algum podemos manifestar
alguma espécie de conformismo com
esse tipo de expectativa. Ao contrário,
urge recuperar a credibilidade do governo para a defesa da estabilidade monetária, perseguindo, sem desfalecimentos, a busca do equilíbrio fiscal.
É perfeitamente possível formularmos um programa realista com vistas a
assegurar a transição para voltarmos a
dispor de âncoras, não tão danosas à
nossa economia, capazes de sustentar o
Plano Real.
É preciso ainda dar-se conta da singularidade dos fenômenos negativos
com que nos temos defrontado. O desequilíbrio das contas públicas, por si
só, não teria gerado a crise com as proporções de que chegou a revestir-se,
mas tornou-nos vulneráveis aos efeitos
do que ocorreu em outros países.
A experiência do que vem ocorrendo
em diversas partes do mundo evidencia
claramente que, por enquanto, não há
mecanismos institucionais capazes de
exercer qualquer espécie de controle
sobre os capitais que escolhem, a partir
exclusivamente de suas próprias conveniências, quando e em que direção
migrar. É uma realidade, associada à
globalização, com a qual só nos resta
aprender a conviver, enquanto procura-se uma fórmula de controlar os seus
efeitos nefastos. Assim, o antídoto com
que poderíamos contar limitava-se à
eliminação da mencionada vulnerabilidade, além de dar provas da mais ampla e profunda coesão nacional.
Essa união nacional tem que ser alicerçada em torno de objetivos claros,
envolvendo a competência e coerência
das políticas monetárias e fiscal, de um
grande esforço exportador estribado
num câmbio real e juros civilizados e
da estabilidade da relação da dívida interna líquida com o PIB.
O engajamento da sociedade no processo de superação da crise que nos sufoca em torno de um projeto de desenvolvimento é fundamental para que
nosso país não sucumba em meio a esse
mar revolto.
Temos um presidente da República
recém-reeleito que dispõe de maioria
no Congresso, empresários que já provaram sua capacidade de superar terríveis dificuldades com a globalização da
economia e trabalhadores que, não
obstante as taxas altíssimas de desemprego, têm defendido suas reivindicações de forma ordeira e pacífica.
Não há por que nos afundarmos em
apatia e desesperança. Ao contrário,
devemos todos, governo, políticos,
empresários e trabalhadores, com a colaboração da mídia, procurar a melhor
alternativa para o país e lutar para que
ela seja efetivamente implantada.
Em diferentes momentos de dificuldades em nossa história recente, muito
se falou na necessidade de um governo
de união nacional.
Todavia não me lembro de nenhuma
outra oportunidade em que essa união
fosse tão necessária. Temos que sair
dessa perplexidade que assaltou a todos. E devemos fazer isso juntos, com a
colaboração consciente de todas as forças vivas da nação.
Fernando Bezerra, 57, empresário, é senador pelo
PMDB do Rio Grande do Norte e presidente licenciado
da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
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