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RUY CASTRO
Confete na cueca
RIO DE JANEIRO - Se, em 2000,
me dissessem que em breve assistiríamos no Rio à volta triunfal da Lapa, do Carnaval de rua e do confete
e da serpentina, nem eu, que não
duvido de mais nada, acreditaria no
que estava ouvindo. Era tudo muito
improvável.
Mas as improbabilidades logo
ruíram. A Lapa voltou a ser o epicentro da música e da alegria no
Rio. Em seguida, sem qualquer apelo oficial e até mesmo sem dinheiro,
o Carnaval de rua começou a ocupar a cidade, com centenas de blocos. E, nestes últimos dias, mesmo
na qualidade de folião grave, quase
platônico, surpreendi-me, ao voltar
para casa e tirar a roupa, com confete até dentro da cueca.
Se estas não fossem tendências
que já vinham se desenhando há algum tempo, poder-se-ia dizer que é
a típica resposta carioca à crise que
está assolando o mundo -assim como, em 1919, o Rio só esperou acabar a Primeira Guerra e a gripe espanhola para promover o seu maior
Carnaval até então. E, antes que alguém nos acuse de irresponsabilidade crônica, devo dizer que concordo com a acusação e acho ótimo
que assim seja.
O que o Carnaval pode gerar de
negócios (as cervejas faturaram em
vendas pelo ano inteiro), energia
(nunca vi tanta gente pulando ao
som de marchinhas) e paixão (metade dos jovens nas ruas pareciam
atracados pela boca à outra metade) deve ter atingido seu apogeu em
2009. E, sem uma gota de chuva para refrescar, o povo suou o suficiente para encharcar o planeta, o que
também é sinal de vitalidade.
Cada bloco carioca é uma expressão do bar, quiosque ou esquina onde foi fundado. Independe da presença de um artista famoso, e é formado por pessoas que querem apenas saracotear, encher a cara e se
divertir. Não é proibido ao famoso
aderir. No bloco, ele será, como milhares, um simples anônimo feliz.
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