São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

O mingau e as beiras

RIO DE JANEIRO - Tanto a oposição como a mídia, interessadas em deletar Lula, seja pela força de um impeachment, seja pela deteriorização de sua imagem como candidato à reeleição, estão comendo o mingau pelas beiras.
É bem verdade que as beiras são suculentas: Dirceu, Palocci, Delúbio et caterva. Querem agora incluir a Polícia Federal, que é tão furada como um queijo suíço no que diz respeito ao contrabando de armas e drogas, mas tem dado conta do recado no que diz respeito ao mensalão, bingos e caixas dois. Ao lado do Ministério Público, tem sido uma referência, maior do que as CPIs e maior do que o próprio STF.
O problema, vamos e venhamos, o núcleo de toda a corrupção, é o presidente da República. Tudo gravitou em torno dele. Contrariando a máxima de que nada vai para o intelecto sem antes passar pelos sentidos, Lula insiste em dizer que sua cabeça somente está agora tomando conhecimento da lama que o rodeou.
Seus sentidos (olhos, ouvidos, nariz, boca e tato) não sabiam de nada, nada viram, nada ouviram, não cheiraram a bandalheira promovida no próprio Alvorada. Sua boca nunca perguntou nada sobre os fundos de sua campanha pela reeleição, e seu tato nada percebeu. A corrupção apenas chegou à sua cabeça pelo que ele leu nos jornais.
Acontece que a oposição e a mídia, por falta de coragem ou por complicadíssima tática que não está dando resultado (os índices eleitorais de Lula continuam altos), preferem se refestelar nos contornos, na periferia, nas beiras de um mingau que não pode ser novamente servido para matar a fome da nação, que espera de um presidente mais do que cestas básicas e discursos em que elogia a si mesmo.
Agora mesmo, com a relativa auto-suficiência em petróleo, ele encampou 50 anos de lutas de todo um povo e de vários governos e já arrolou os barris da nova plataforma como criação sua. A nova bravata não merece impeachment, mas a corrupção merece.


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