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CARLOS HEITOR CONY
O mingau e as beiras
RIO DE JANEIRO - Tanto a oposição
como a mídia, interessadas em deletar Lula, seja pela força de um impeachment, seja pela deteriorização
de sua imagem como candidato à
reeleição, estão comendo o mingau
pelas beiras.
É bem verdade que as beiras são suculentas: Dirceu, Palocci, Delúbio et
caterva. Querem agora incluir a Polícia Federal, que é tão furada como
um queijo suíço no que diz respeito
ao contrabando de armas e drogas,
mas tem dado conta do recado no
que diz respeito ao mensalão, bingos
e caixas dois. Ao lado do Ministério
Público, tem sido uma referência,
maior do que as CPIs e maior do que
o próprio STF.
O problema, vamos e venhamos, o
núcleo de toda a corrupção, é o presidente da República. Tudo gravitou
em torno dele. Contrariando a máxima de que nada vai para o intelecto
sem antes passar pelos sentidos, Lula
insiste em dizer que sua cabeça somente está agora tomando conhecimento da lama que o rodeou.
Seus sentidos (olhos, ouvidos, nariz,
boca e tato) não sabiam de nada, nada viram, nada ouviram, não cheiraram a bandalheira promovida no
próprio Alvorada. Sua boca nunca
perguntou nada sobre os fundos de
sua campanha pela reeleição, e seu
tato nada percebeu. A corrupção
apenas chegou à sua cabeça pelo que
ele leu nos jornais.
Acontece que a oposição e a mídia,
por falta de coragem ou por complicadíssima tática que não está dando
resultado (os índices eleitorais de Lula continuam altos), preferem se refestelar nos contornos, na periferia,
nas beiras de um mingau que não
pode ser novamente servido para
matar a fome da nação, que espera
de um presidente mais do que cestas
básicas e discursos em que elogia a si
mesmo.
Agora mesmo, com a relativa auto-suficiência em petróleo, ele encampou 50 anos de lutas de todo um povo
e de vários governos e já arrolou os
barris da nova plataforma como
criação sua. A nova bravata não merece impeachment, mas a corrupção
merece.
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