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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O vice-rei e a nudez

SÃO PAULO - Todo mundo sabia, faz tempo, que juros estupidamente altos e superávit fiscal idem "seguram a economia", para usar a expressão do chefe da Casa Civil, José Dirceu, na confissão tornada involuntariamente pública.
O diabo é que havia (há ainda) um coro, talvez majoritário, que ou diz o contrário ou silencia. Coro formado por governistas atávicos, neogovernistas, partidários de inquebrantável fé no slogan "a esperança venceu o medo" e, acima de tudo, os beneficiados pelo modelo.
No caso, os integrantes da pátria financeira, que continuam a vampirizar o restante da economia e, por extensão, a sociedade.
Daí a importância da confissão de Dirceu. É como se o vice-rei dissesse: "Estamos nus".
Reconhecida a nudez, talvez se possa desvestir outra bobagem. Todo mundo sabe que Henrique Meirelles não conduz a política monetária à revelia do ministro Antonio Palocci e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Claro que é mais fácil alvejar o mais fraco politicamente, no caso Meirelles. Mas se os juros estão estupidamente altos, a culpa (ou o mérito, conforme o ponto de vista) é em primeiro lugar de Lula, em segundo lugar de Palocci e só depois do presidente do BC.
No máximo, pode-se argumentar que tanto o presidente como o ministro não tomaram a iniciativa, mas foram convencidos por Meirelles (e pelo formidável coro da pátria financeira) de que manter juros altos é inevitável, embora desagradável. Mas não podem fugir à responsabilidade.
Agora que até Dirceu admite que a queda na atividade econômica "é visível", há um de dois caminhos: ou começa o mais depressa possível a tal fase dois ou se sepulta o slogan, porque, definitivamente, o medo terá vencido a esperança.
Cabe também um terceiro caminho: expulsar Dirceu do PT. Afinal, sua confissão involuntária faz mais estragos na imagem do governo do que todo o estardalhaço dos mal chamados radicais.


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