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A PROPOSTA DE BUSH
A história ensina que, quando
uma ocupação militar desperta
a resistência da população local, e
atos de guerrilha e de sabotagem começam a se repetir, o melhor a fazer
é declarar vitória e bater em retirada.
Os EUA já parecem ter percebido que
a situação do Iraque se assemelha cada vez mais a esse quadro.
Com a aproximação da eleição presidencial, na qual George W. Bush
disputa um segundo mandato, e
com a popularidade presidencial em
queda, por causa principalmente das
más notícias do "front" iraquiano,
encontrar uma saída é uma questão
de sobrevivência política. É esse o
contexto que explica o significativo
recuo da Casa Branca em sua nova
proposta de resolução sobre o Iraque
apresentada ao Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas.
Para começar, o novo texto, que
ainda será debatido pelos membros
do CS e cuja formulação final será
exaustivamente negociada, prevê
uma transferência real de soberania
ao governo iraquiano a ser designado pela ONU. Pela proposta, o futuro
Executivo iraquiano também terá
acesso aos recursos financeiros do
petróleo, que estavam sendo controlados pela coalizão. A crer em declarações do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, o governo
interino poderá até determinar a saída das forças estrangeiras.
O contraste com o que Washington defendia até poucas semanas
atrás não poderia ser maior. A Casa
Branca falava em soberania relativa,
sem dar ao governo iraquiano o direito de aprovar leis, tomar decisões
sobre a economia ou exercer autoridade sobre seu próprio Exército.
É verdade que os EUA derrubaram
Saddam Hussein, o que os torna tecnicamente os vencedores do conflito. A vitória, porém, precisa ser relativizada quando se considera que
Washington parece prestes não a renunciar, mas a colocar sob risco vários outros objetivos, como o controle sobre as jazidas de petróleo e a
criação de um Estado visceralmente
pró-EUA no golfo Pérsico.
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