São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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A PROPOSTA DE BUSH

A história ensina que, quando uma ocupação militar desperta a resistência da população local, e atos de guerrilha e de sabotagem começam a se repetir, o melhor a fazer é declarar vitória e bater em retirada. Os EUA já parecem ter percebido que a situação do Iraque se assemelha cada vez mais a esse quadro.
Com a aproximação da eleição presidencial, na qual George W. Bush disputa um segundo mandato, e com a popularidade presidencial em queda, por causa principalmente das más notícias do "front" iraquiano, encontrar uma saída é uma questão de sobrevivência política. É esse o contexto que explica o significativo recuo da Casa Branca em sua nova proposta de resolução sobre o Iraque apresentada ao Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas.
Para começar, o novo texto, que ainda será debatido pelos membros do CS e cuja formulação final será exaustivamente negociada, prevê uma transferência real de soberania ao governo iraquiano a ser designado pela ONU. Pela proposta, o futuro Executivo iraquiano também terá acesso aos recursos financeiros do petróleo, que estavam sendo controlados pela coalizão. A crer em declarações do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, o governo interino poderá até determinar a saída das forças estrangeiras.
O contraste com o que Washington defendia até poucas semanas atrás não poderia ser maior. A Casa Branca falava em soberania relativa, sem dar ao governo iraquiano o direito de aprovar leis, tomar decisões sobre a economia ou exercer autoridade sobre seu próprio Exército.
É verdade que os EUA derrubaram Saddam Hussein, o que os torna tecnicamente os vencedores do conflito. A vitória, porém, precisa ser relativizada quando se considera que Washington parece prestes não a renunciar, mas a colocar sob risco vários outros objetivos, como o controle sobre as jazidas de petróleo e a criação de um Estado visceralmente pró-EUA no golfo Pérsico.


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