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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Cacoetes da China
SÃO PAULO - Falando a empresários
ontem em Pequim, Lula definiu a
China como "uma espécie de shopping de oportunidades" para os negócios brasileiros. Ao mesmo tempo, o
chanceler Celso Amorim declarou
que o presidente "está consciente de
que hoje os direitos humanos fazem
parte da Constituição chinesa". Juntas, as declarações dizem algo sobre o
ser profundo (ou chinês) do governo.
A primeira delas é uma mistura de
pragmatismo e vulgaridade liberais-exemplo de jargão de mercado
que cai melhor na boca de um vendedor do que na de um estadista. A segunda vai além. Vale-se de um eufemismo diplomático para omitir o essencial: a inexistência de direitos humanos na China, a realidade inaceitável das execuções por rito sumário,
do cerceamento às liberdades e de toda a procissão de horrores que marcam a vida política daquele país.
Na viagem que fez a Cuba no ano
passado, Lula simplesmente silenciou sobre as atrocidades de Fidel
Castro. Perdeu uma oportunidade
histórica de fazer a defesa pública da
democracia e, ao mesmo tempo, de
marcar distância da estupidez da política norte-americana para a ilha.
Agora parece pior: o Brasil avaliza
procedimentos de um regime sanguinário em troca do apoio a ambições
na ONU e da perspectiva de business.
Da esquerda, Lula e o PT têm mostrado, dia após dia, que preservam
apenas os cacoetes. Ainda fresco, o
caso Larry Rohter é um exemplo
quase caricato de ranço autoritário
instalado no coração do governo.
Tal concepção se estende a aspectos
anedóticos ou aparentemente inofensivos da administração federal.
As estrelas vermelhas plantadas nos
jardins do Alvorada e do Torto lembram um pouco imagens de velhas
republiquetas de partido único.
O credo deste governo, porém, é outro. Enquanto sua substância é liberal e se confunde com a política do
shopping center, sua simbologia rende homenagens aos cadáveres da velha esquerda -a mesma que o PT
combatia quando surgiu na política.
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