São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2007

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FERNANDO RODRIGUES

Marcha da insensatez

BRASÍLIA - Arlindo Chinaglia fez campanha para presidente da Câmara prometendo colocar em votação a chamada "reforma política". A indigência intelectual da Casa que preside acaba de produzir um projeto frankenstein de mudanças político-eleitorais. Chinaglia forçará a mão para aprovar a anomalia, à custa de sujar sua biografia.
O deputado médico do PT de São Paulo ficará para história como o presidente da Câmara responsável pela criação da oligarquia mais perene do sistema eleitoral brasileiro. O sistema de listas partidárias, a ser votado nesta semana, mantém a incrível regra da precedência: quem já é deputado será colocado no topo da relação.
Ou seja, o eleitor vota numa legenda, seja ela qual for, e os primeiros a serem eleitos serão os que já são deputados. Para fingir democracia, haverá também a possibilidade, não obrigatória, de um segundo voto para um deputado individualmente entre os que estão na lista. Alguém de boa-fé acredita na possibilidade de milhões de brasileiros se darem ao trabalho de empreender tal tipo de ação? Nem os deputados acreditam nessa hipótese. Aprovarão a regra sem medo de serem felizes na disputa de 2010.
Outra maracutaia: o financiamento público em gestação não será mais limitado a R$ 7 por eleitor. A cada eleição as excelências no Congresso definirão o teto. Para quem não se lembra, o país tem 125 milhões de eleitores. A R$ 7 por cabeça a conta sai por R$ 875 milhões.
Os políticos acham pouco. Essa marcha da insensatez só pode ser abortada por Arlindo Chinaglia. Surgiu a idéia de submeter tudo a um plebiscito -como forma de impedir o ato tresloucado da Câmara. É insuficiente.
Por um mínimo de decência os deputados deveriam jogar esse pacote demencial no lixo. Minimizariam um pouco a credibilidade depauperada do Poder Legislativo.

frodriguesbsb@uol.com.br


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