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Caduquice prematura
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Brasília - A adoção do Código Nacional de Trânsito animou quem esperava ver o país alterar sua histórica tradição de pouca civilidade nas ruas.
Quem conhecia bem a selvageria absoluta das relações entre motoristas,
pedestres, motociclistas, ciclistas nas
grandes cidades do Brasil se surpreendeu com a rápida mudança de comportamento, instada, ao que tudo indica, pelo receio de multas pesadas.
Em Brasília, a alteração foi ainda
mais marcante. Ao código, juntaram-se uma intensa campanha liderada pelo jornal "Correio Braziliense" e
a vontade política do governo do Distrito Federal de aplicar a lei com rigor.
No segundo semestre de 1998,
viam-se na capital do país cenas que
pareciam impossíveis em qualquer
metrópole brasileira: carros parando
diante de faixas de pedestre assim que
alguém colocava o pé sobre elas, mesmo sem semáforo, por exemplo.
Este ano, entretanto, as coisas estão
voltando ao "normal", ao menos em
Brasília. O governador Joaquim Roriz,
assim que tomou posse em janeiro,
tratou de anistiar multas por excesso
de velocidade aplicadas no passado.
O sinal foi logo entendido pelos trogloditas sobre rodas. Nos primeiros
cinco meses de 1999, o número de acidentes com mortes no trânsito do Distrito Federal cresceu 48% em relação a
1998. Os pedestres já não pisam em
suas faixas com a mesma segurança.
Há sinais de que, por todo o país, o
temor imposto pelo código arrefeceu.
O valor das multas aumentou. Mas a
fiscalização não tem sido rigorosa.
Pontos importantes do código, que
poderiam garantir resultados de longo
prazo, baseados não em medo de multas, mas em educação de motorista,
não foram ainda implementados.
Por exemplo: o novo sistema de habilitação de motorista, a inspeção veicular, o investimento dos recursos gerados pela aplicação de multas no
Fundo de Segurança do Trânsito.
Com 18 meses de vigência, o Código
de Trânsito já parece ter caducado.
Como outras iniciativas do gênero,
não foi levado a sério. O Brasil real
sempre avacalha as boas intenções.
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