São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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Caduquice prematura

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Brasília - A adoção do Código Nacional de Trânsito animou quem esperava ver o país alterar sua histórica tradição de pouca civilidade nas ruas.
Quem conhecia bem a selvageria absoluta das relações entre motoristas, pedestres, motociclistas, ciclistas nas grandes cidades do Brasil se surpreendeu com a rápida mudança de comportamento, instada, ao que tudo indica, pelo receio de multas pesadas.
Em Brasília, a alteração foi ainda mais marcante. Ao código, juntaram-se uma intensa campanha liderada pelo jornal "Correio Braziliense" e a vontade política do governo do Distrito Federal de aplicar a lei com rigor.
No segundo semestre de 1998, viam-se na capital do país cenas que pareciam impossíveis em qualquer metrópole brasileira: carros parando diante de faixas de pedestre assim que alguém colocava o pé sobre elas, mesmo sem semáforo, por exemplo.
Este ano, entretanto, as coisas estão voltando ao "normal", ao menos em Brasília. O governador Joaquim Roriz, assim que tomou posse em janeiro, tratou de anistiar multas por excesso de velocidade aplicadas no passado.
O sinal foi logo entendido pelos trogloditas sobre rodas. Nos primeiros cinco meses de 1999, o número de acidentes com mortes no trânsito do Distrito Federal cresceu 48% em relação a 1998. Os pedestres já não pisam em suas faixas com a mesma segurança.
Há sinais de que, por todo o país, o temor imposto pelo código arrefeceu. O valor das multas aumentou. Mas a fiscalização não tem sido rigorosa.
Pontos importantes do código, que poderiam garantir resultados de longo prazo, baseados não em medo de multas, mas em educação de motorista, não foram ainda implementados.
Por exemplo: o novo sistema de habilitação de motorista, a inspeção veicular, o investimento dos recursos gerados pela aplicação de multas no Fundo de Segurança do Trânsito.
Com 18 meses de vigência, o Código de Trânsito já parece ter caducado. Como outras iniciativas do gênero, não foi levado a sério. O Brasil real sempre avacalha as boas intenções.


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