São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Sem saída?

SÃO PAULO - Os problemas brasileiros são radicais, com perdão pela obviedade. Se houvesse alguma dúvida, os números do mais recente Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) voltam a atestá-lo.
Problemas radicais pedem soluções radicais, se o leitor me perdoa a segunda obviedade.
Por isso, o suposto (ou real) radicalismo do PT, hoje submetido a um coro ensurdecedor de críticas, jamais me pareceu um problema. O problema real era outro: tratava-se de saber se as propostas petistas continham apenas radicalismos ou poderiam ser também eficazes (ou, na hipótese inversa, desastrosas).
Essa discussão parece agora vencida. O programa de governo que o partido lançou anteontem não foi objeto de críticas em lugar algum relevante pelo lado do radicalismo.
O eixo da crítica passou, em geral, pelo fato de que "o programa diz pouco sobre como pagar pelos cortes de impostos e empréstimos subsidiados propostos", como escreve Raymond Colitt, o correspondente do jornal britânico "Financial Times" no Brasil.
É uma crítica correta, aliás, mas não é a única que precisa ser feita. Suspeito que o PT meteu-se (ou sempre esteve) em uma espécie de "catch 22", uma situação sem saída.
Se se dizia, antes, que o suposto (ou real) radicalismo do PT deixava empresários e mercados financeiros à beira de um ataque de nervos, agora a falta de respostas radicais, uma vez no governo, pode causar um ataque de nervos (ou de frustração) no público em geral.
Ou, posto de outra forma: para ganhar, o PT precisa ser moderado demais, correndo o risco de nem assim aplacar o mercado. Mas, se ganhar e fizer um governo moderado demais, não aplaca a sede do público e perde do mesmo jeito.


Texto Anterior: Editoriais: VALOR INTANGÍVEL
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: FHC e Lula, numa boa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.