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CLÓVIS ROSSI
Sem saída?
SÃO PAULO - Os problemas brasileiros são radicais, com perdão pela obviedade. Se houvesse alguma dúvida,
os números do mais recente Relatório
sobre o Desenvolvimento Humano,
do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) voltam
a atestá-lo.
Problemas radicais pedem soluções
radicais, se o leitor me perdoa a segunda obviedade.
Por isso, o suposto (ou real) radicalismo do PT, hoje submetido a um coro ensurdecedor de críticas, jamais
me pareceu um problema. O problema real era outro: tratava-se de saber
se as propostas petistas continham
apenas radicalismos ou poderiam ser
também eficazes (ou, na hipótese inversa, desastrosas).
Essa discussão parece agora vencida. O programa de governo que o
partido lançou anteontem não foi
objeto de críticas em lugar algum relevante pelo lado do radicalismo.
O eixo da crítica passou, em geral,
pelo fato de que "o programa diz
pouco sobre como pagar pelos cortes
de impostos e empréstimos subsidiados propostos", como escreve Raymond Colitt, o correspondente do jornal britânico "Financial Times" no
Brasil.
É uma crítica correta, aliás, mas
não é a única que precisa ser feita.
Suspeito que o PT meteu-se (ou sempre esteve) em uma espécie de "catch
22", uma situação sem saída.
Se se dizia, antes, que o suposto (ou
real) radicalismo do PT deixava empresários e mercados financeiros à
beira de um ataque de nervos, agora
a falta de respostas radicais, uma vez
no governo, pode causar um ataque
de nervos (ou de frustração) no público em geral.
Ou, posto de outra forma: para ganhar, o PT precisa ser moderado demais, correndo o risco de nem assim
aplacar o mercado. Mas, se ganhar e
fizer um governo moderado demais,
não aplaca a sede do público e perde
do mesmo jeito.
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