São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

FHC e Lula, numa boa

BRASÍLIA - A chave mais importante para analisar a sucessão está com Ciro Gomes. Ele é o fator decisivo. Se esvaziar, vai confirmar a expectativa inicial de um embate esquerda versus governo. Se continuar conquistando corações e votos, como uma nova Roseana, ele não ameaça apenas Serra, que já se distanciou em terceiro lugar, mas começa a provocar um mal disfarçado pânico em Lula e nos petistas. Ciro pegou embalo. Se mantiver o ritmo, pode ir embora, atropelando tudo e todos.
É isso que reacende um velho movimento que se insinuou no início do ano e depois evaporou diante do crescimento de Serra: os petistas moderados, ou pragmáticos, e os tucanos de esquerda, inclusive os ligados a FHC, andam conversando novamente. Lembre-se: em política, como nas guerras, nada melhor que um inimigo comum para mobilizar e animar as tropas. Ciro é o inimigo comum.
A cúpula do governo e o comando do PT elegeram-se mutuamente, há tempos, como adversários preferenciais. Acham que o melhor para o país, para o processo, para o PT e para o PSDB é Lula e Serra no segundo turno. Quando Serra ameaçou crescer e disputar liderança com Lula, os petistas recuaram. Agora, a turma toda volta a conversar.
Antes, os dois grupos -PT e PSDB- tinham que alijar Roseana, Garotinho, os caciques do PFL. Hoje, têm um inimigo muito mais sólido, inclusive porque mais cara a cara com a eleição, que será daqui a pouquinho, em 6 de outubro.
FHC está que não se aguenta e já mandou recado por emissário petista que vai fundo a favor de Lula, se no segundo turno der Lula e Ciro. Sem esquecer que o próprio presidente do PT, José Dirceu, anunciou publicamente -e de Washington- que tinha telefonado para FHC para papear, trocar umas idéias.
Pode parecer estranho, mas FHC tem chance de se transformar no mais principal aval político de um eventual governo Lula. Um aval interno também, mas principalmente internacional. Tudo depende dele: o adversário maior, Ciro Gomes.


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