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CLÓVIS ROSSI
A inocência de Maluf
SÃO PAULO - Era uma vez um tempo
em que os adversários de Paulo Salim
Maluf gostavam de repetir: "A gente
odeia o Maluf faz tanto tempo que já
nem lembra por qual motivo".
De repente, a Polícia Fazendária
francesa lembra a todos os brasileiros
um dos motivos: a eterna suspeição
de corrupção que pesa sobre o ex-prefeito desde que se lançou na vida pública no colo dos generais que então
governavam a pátria.
Para a oposição ao malufismo, certamente majoritária mesmo em São
Paulo, a julgar pelos resultados eleitorais, deveria ser motivo de comemoração. O campeão das acusações,
jamais detido, afinal é levado a uma
dependência policial, nem que seja
apenas para depoimento.
De molho em casa, fiz até questão
de dar uma volta pelas imediações
para tentar ouvir os fogos de artifícios, as festas comemorativas, os buzinaços correspondentes. Nada.
Nem há razão para festejos. Quase
todos os que odiaram Maluf durante
tanto tempo se compuseram com ele.
Primeiro, Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, que incluíram o PPB
(agora sem o "B") na ampla base governista. FHC até apareceu ao lado
de Maluf em cartazes eleitorais.
Agora, o PP de Maluf faz parte de
outra base governista, a do governo
Luiz Inácio Lula da Silva, embora o
partido de Lula se opusesse à base governista do governo FHC (as repetições são propositais, só para tentar
sublinhar o grotesco).
Suponho até que a embaixada brasileira em Paris tenha sido acionada
para prestar todo o auxílio possível
ao ex-governador, não só por sua
condição de ex mas também por ser
membro de um partido que, afinal, é
governista.
Não sei se Maluf é ou não culpado.
Acho até que importa pouco agora,
na medida em que se trata de um cadáver político, incapaz, portanto, de
causar mais males do que os já provocados. O triste nessa história toda é
que, ao ter seu partido levado às bases de dois governos, acabou inocentado pelos que mais santa ira mostraram contra seus métodos. É o Brasil.
Pobre Brasil.
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