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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A inocência de Maluf

SÃO PAULO - Era uma vez um tempo em que os adversários de Paulo Salim Maluf gostavam de repetir: "A gente odeia o Maluf faz tanto tempo que já nem lembra por qual motivo".
De repente, a Polícia Fazendária francesa lembra a todos os brasileiros um dos motivos: a eterna suspeição de corrupção que pesa sobre o ex-prefeito desde que se lançou na vida pública no colo dos generais que então governavam a pátria.
Para a oposição ao malufismo, certamente majoritária mesmo em São Paulo, a julgar pelos resultados eleitorais, deveria ser motivo de comemoração. O campeão das acusações, jamais detido, afinal é levado a uma dependência policial, nem que seja apenas para depoimento.
De molho em casa, fiz até questão de dar uma volta pelas imediações para tentar ouvir os fogos de artifícios, as festas comemorativas, os buzinaços correspondentes. Nada.
Nem há razão para festejos. Quase todos os que odiaram Maluf durante tanto tempo se compuseram com ele. Primeiro, Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, que incluíram o PPB (agora sem o "B") na ampla base governista. FHC até apareceu ao lado de Maluf em cartazes eleitorais.
Agora, o PP de Maluf faz parte de outra base governista, a do governo Luiz Inácio Lula da Silva, embora o partido de Lula se opusesse à base governista do governo FHC (as repetições são propositais, só para tentar sublinhar o grotesco).
Suponho até que a embaixada brasileira em Paris tenha sido acionada para prestar todo o auxílio possível ao ex-governador, não só por sua condição de ex mas também por ser membro de um partido que, afinal, é governista.
Não sei se Maluf é ou não culpado. Acho até que importa pouco agora, na medida em que se trata de um cadáver político, incapaz, portanto, de causar mais males do que os já provocados. O triste nessa história toda é que, ao ter seu partido levado às bases de dois governos, acabou inocentado pelos que mais santa ira mostraram contra seus métodos. É o Brasil. Pobre Brasil.


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