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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

À direita

SÃO PAULO - Brasília anda bem agitada, mas São Paulo não está nada atrás. Lá, na capital, discute-se reforma da Previdência, greve de juízes, porte de armas. Aqui, na seara paulistana, mata-se fotógrafo em acampamento de sem-teto e só se fala na detenção de Paulo Maluf em Paris, na boca do caixa de uma agência do Crédit Agricole.
De um lado, sem-teto invadem, mobilizam, andam armados e agora essa morte mal-explicada do colega Luis Antônio da Costa. De outro lado, o maior símbolo da direita nacional e paulista anda muito ocupado com contas, depoimentos e polícia, sem tempo para cuidar de eleição e de partido (o PPB virou PP, mudando de sigla e de mãos).
O que isso significa? Que os ânimos estão se exaltando muito antes da eleição municipal do ano que vem -o primeiro teste do PT e do governo Lula depois da vitória de 2002.
E o que projeta? Que o clima de esquerda que alegrou o país na eleição de Lula pode começar a se confundir com o clima de invasões de sem-terra e de sem-teto. Classe média desconfia, capitalista não gosta, ruralista detesta. E todos eles não têm mais para onde correr: o colo do velho Maluf.
Tudo indica, portanto, que a eleição paulistana vai deixar de se sustentar num tripé e se equilibrar em dois pés. Antes, a esquerda com o PT, o centro com o PSDB e a direita com Maluf. Hoje, Maluf perde seu capital político em favor de seu capital em contas no exterior, e sobram PT e PSDB. Esquerda e direita.
O PSDB não tem saída. Apesar do passado e do orgulho de centro-esquerda, vai ter de adernar à direita. Alckmin já assumiu o discurso da segurança, da "ameaça à ordem", do "cumprimento da lei". Vai ter de isolar Marta e o PT e de colher a herança de Maluf e do PP. É por isso que o candidato tem tudo para ser Saulo de Castro Abreu Filho. É o secretário da Segurança. Esquisito? Esquisitíssimo. Mas é sinal dos tempos.


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