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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Agora, vai. Vai?

SÃO PAULO - 1. Na falta do espetáculo do crescimento, arranjou-se um show de euforia. Muito bem que o BC tenha baixado os juros mais que o esperado. Mas mudou grande coisa? Não. O país ainda deve crescer algo como 1,5% neste ano, o desemprego permanecerá horrível etc.
2. Mas havia motivo para o pessimismo fatalista e sombrio do mês passado? Não, também não.
3. Desconfiai do otimismo governista. O superávit comercial é recorde? É. Mas isso se chama recessão disfarçada. Vendemos tanto lá fora porque deixamos de consumir aqui dentro.
4. Desconfiai de clichês como "romper com o FMI", "reduzir o superávit fiscal" (o governo gastar mais) etc. Mais superávit fiscal e taxas de juros menores baixam a dívida pública e o pagamento de juros. O governo tem espaço para gastar mais, sem criar mais problemas.
5. Se a dívida do governo cresce, o país consome demais, vende menos no exterior etc. Logo vem crise da falta de dólares ou inflação. Não dá pé. Para dar, é preciso reformar a economia, torná-la capaz de exportar mais sem precisar de inflação ou cair na crise cambial. Logo, precisamos de governos mais econômicos, juro menor e política comercial decente. Não é impossível.
6. Desconfiai, porém, do mercadismo radical. Os juros podem cair mais mesmo com a atual dívida pública. O Estado tem de ter papel importante neste país. Nunca a iniciativa privada se arriscou muito antes de o Estado ter arrumado a cama.
7. Posto isto, é preciso dizer que a economia brasileira é uma desconhecida. Após uma década de mudanças, o país não cresceu bem três anos seguidos. Ninguém sabe bem como a economia reage em situações menos anormais. Pesquisas e estatísticas são escassas, não se conhece o interior do país etc. As previsões mais detalhadas podem estar todas erradas, como estavam erradas as previsões que levaram o BC a deixar os juros na estratosfera (a crise bateu mais fundo e mais rápido do que se previa). Quem sabe o Brasil possa decolar, ainda que isso pareça tão impossível como o vôo do besouro?


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