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VINICIUS TORRES FREIRE
Agora, vai. Vai?
SÃO PAULO - 1. Na falta do espetáculo do crescimento, arranjou-se um
show de euforia. Muito bem que o BC
tenha baixado os juros mais que o esperado. Mas mudou grande coisa?
Não. O país ainda deve crescer algo
como 1,5% neste ano, o desemprego
permanecerá horrível etc.
2. Mas havia motivo para o pessimismo fatalista e sombrio do mês
passado? Não, também não.
3. Desconfiai do otimismo governista. O superávit comercial é recorde?
É. Mas isso se chama recessão disfarçada. Vendemos tanto lá fora porque
deixamos de consumir aqui dentro.
4. Desconfiai de clichês como "romper com o FMI", "reduzir o superávit
fiscal" (o governo gastar mais) etc.
Mais superávit fiscal e taxas de juros
menores baixam a dívida pública e o
pagamento de juros. O governo tem
espaço para gastar mais, sem criar
mais problemas.
5. Se a dívida do governo cresce, o
país consome demais, vende menos
no exterior etc. Logo vem crise da falta de dólares ou inflação. Não dá pé.
Para dar, é preciso reformar a economia, torná-la capaz de exportar mais
sem precisar de inflação ou cair na
crise cambial. Logo, precisamos de
governos mais econômicos, juro menor e política comercial decente. Não
é impossível.
6. Desconfiai, porém, do mercadismo radical. Os juros podem cair mais
mesmo com a atual dívida pública.
O Estado tem de ter papel importante neste país. Nunca a iniciativa privada se arriscou muito antes de o Estado ter arrumado a cama.
7. Posto isto, é preciso dizer que a
economia brasileira é uma desconhecida. Após uma década de mudanças, o país não cresceu bem três
anos seguidos. Ninguém sabe bem
como a economia reage em situações
menos anormais. Pesquisas e estatísticas são escassas, não se conhece o
interior do país etc. As previsões mais
detalhadas podem estar todas erradas, como estavam erradas as previsões que levaram o BC a deixar os juros na estratosfera (a crise bateu
mais fundo e mais rápido do que se
previa). Quem sabe o Brasil possa decolar, ainda que isso pareça tão impossível como o vôo do besouro?
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