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CARLOS HEITOR CONY
O foguete e o café
RIO DE JANEIRO - O acidente com o foguete espacial brasileiro em Alcântara, queiramos ou não, foi um chega-pra-lá em nosso ufanismo, na capacidade nacional de com pouca verba conseguir muito. Sinceramente,
apesar de meu pessimismo generalizado sobre Brasil e sobre a humanidade em geral, nela me incluindo,
não fiquei acabrunhado com o episódio, embora lamentando as vítimas
que deixou e a ferida que abriu em
nossa confiança de realizar proezas
além do futebol e das mulatas.
No início da era espacial, logo após
o lançamento do Sputnik pelos soviéticos, os Estados Unidos tentaram colocar alguma coisa que ficasse boiando lá em cima. Lembro da sessão no
velho Cineac que exibiu o fracasso da
primeira tentativa norte-americana.
Foi um espetáculo cômico, igual ao
daquela imensa bala do filme de Carlitos, que caía por simples gravidade
da boca de um monstruoso canhão.
Chegaram a fazer um cartaz na
porta do Cineac, convidando a plebe
a assistir ao vexame. "Venha rir com
os Três Patetas e o foguete que não
saiu do chão."
No mesmo cineminha, especializado em pequenas comédias e desenhos, documentários e jornais cinematográficos, houve gargalhadas
quando o "Esporte em Marcha", do
Milton Rodrigues, exibiu o primeiro
carro nacional andando sozinho,
sem ser empurrado por uma junta de
bois. Era total a descrença na capacidade nacional de produzir um automóvel, uma bicicleta, uma tesourinha de unha.
Não preciso lembrar que hoje vendemos aviões para países bem mais
desenvolvidos que o Brasil. Curiosamente, nossos poucos produtos industrializados são bem aceitos lá fora, o mesmo não acontecendo com a
carne, por exemplo, que periodicamente é vetada em um país ou outro.
Sem falar no café. Um laboratório
europeu descobriu, há tempos, numa
saca de 60 quilos, sangue de boi torrado e moído.
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