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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O foguete e o café

RIO DE JANEIRO - O acidente com o foguete espacial brasileiro em Alcântara, queiramos ou não, foi um chega-pra-lá em nosso ufanismo, na capacidade nacional de com pouca verba conseguir muito. Sinceramente, apesar de meu pessimismo generalizado sobre Brasil e sobre a humanidade em geral, nela me incluindo, não fiquei acabrunhado com o episódio, embora lamentando as vítimas que deixou e a ferida que abriu em nossa confiança de realizar proezas além do futebol e das mulatas.
No início da era espacial, logo após o lançamento do Sputnik pelos soviéticos, os Estados Unidos tentaram colocar alguma coisa que ficasse boiando lá em cima. Lembro da sessão no velho Cineac que exibiu o fracasso da primeira tentativa norte-americana. Foi um espetáculo cômico, igual ao daquela imensa bala do filme de Carlitos, que caía por simples gravidade da boca de um monstruoso canhão.
Chegaram a fazer um cartaz na porta do Cineac, convidando a plebe a assistir ao vexame. "Venha rir com os Três Patetas e o foguete que não saiu do chão."
No mesmo cineminha, especializado em pequenas comédias e desenhos, documentários e jornais cinematográficos, houve gargalhadas quando o "Esporte em Marcha", do Milton Rodrigues, exibiu o primeiro carro nacional andando sozinho, sem ser empurrado por uma junta de bois. Era total a descrença na capacidade nacional de produzir um automóvel, uma bicicleta, uma tesourinha de unha.
Não preciso lembrar que hoje vendemos aviões para países bem mais desenvolvidos que o Brasil. Curiosamente, nossos poucos produtos industrializados são bem aceitos lá fora, o mesmo não acontecendo com a carne, por exemplo, que periodicamente é vetada em um país ou outro.
Sem falar no café. Um laboratório europeu descobriu, há tempos, numa saca de 60 quilos, sangue de boi torrado e moído.


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