|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Fiat Lux
RIO DE JANEIRO - Recebo e-mail de Zé Celso Martinez Correa anunciando que vai tirar a barba de Antônio
Conselheiro logo que acabar sua temporada. Diz ele que está sendo confundido com Papai Noel em todos os
lugares por onde anda. "Virei uma
celebridade: Papai Noel! Todo o impacto que na rua pensava criar com a
imagem do Conselheiro foi roubado
por Papai Noel".
Discordo cordialmente da plebe rude que o toma como o bom velhinho e
discordo também do meu amigo Zé
Celso. Quando o vi, recentemente, no
aeroporto de Brasília, tive uma deslumbramento infantil e um temor
adulto.
Com sua barba cor de neve, sua bata branca, imaculadamente branca,
ele me deu um susto dos diabos.
Quando fiz a primeira comunhão,
recebi, como todos os meninos de minha geração, o "Primeiro Catecismo
da Doutrina Cristã". Nele havia, logo
nas primeiras páginas, a figura do
Criador no ato mesmo da criação.
Era o mesmo Zé Celso que vi no aeroporto. A mesma barba, a mesma
bata imaculada, o mesmo olhar desvairado de quem separara a terra das
águas, criara as estrelas no céu, as árvores e os frutos aqui na terra.
A única diferença é que, no catecismo, o Criador tinha na cabeça aquele
triângulo dourado, donde saía a aura de seu poder e santidade. O mesmo
triângulo, símbolo da Santíssima
Trindade, que séculos depois seria estampado nas caixinhas de fósforo, logomarca da Fiat Lux, creio que ainda
sejam fabricadas.
O triângulo atrás da cabeça faria
bem ao Zé Celso, evitaria a confusão
com o Papai Noel, não prejudicaria o
Conselheiro de Canudos e, de quebra,
faria dele um mensageiro de luz em
tempo integral, e não apenas quando
está cumprindo o seu ofício de ator e
diretor.
Ontem, ele fez na Cinelândia, aqui
no Rio, a cena do suicídio de Getúlio.
Misturando Vargas, o Conselheiro e
o Criador de Todas as Coisas, ele nos
deu recado importante e luminoso.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Crise anunciada Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Exportação = salvação Índice
|