São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

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NELSON MOTTA

Na boca de espera

RIO DE JANEIRO - O que acontece a um parlamentar que é flagrado com a mão na massa e a boca na botija e é cassado ou renuncia?
Nada. O Supremo Tribunal Federal jamais condenou um único e escasso parlamentar, por mais robustas e cabeludas que fossem as provas dos crimes cometidos. O único efeito prático de uma renúncia ou cassação é o suplente comprar um terno novo e dar uma festa em seu apê. Para o partido, ou quadrilha, não muda nada, só um nome.
Mas quem são esses suplentes? No Brasil de hoje, não dá para ter ilusões: alguém duvida de que os suplentes serão ainda piores do que os mensaleiros e sanguessugas titulares?
Pena que os suplentes sejam completamente ignorados pela imprensa e fiquem à vontade para dar continuidade à obra do titular. Afinal, eles herdam o "ponto", os funcionários e a clientela do antecessor. E certamente devem compartilhar das mesmas crenças, valores e métodos. Todo cuidado com eles é pouco, são vorazes e capazes de tudo, estão famintos e ávidos para desfrutar da "bocada" longamente esperada.
Alguém consegue imaginar um grupo de deputados e vereadores assaltando um caminhão de merenda escolar ou roubando frascos de sangue de hospitais públicos? Mas isso já aconteceu, é fato: eles não assaltaram pessoalmente, à mão armada, montados em cavalos e com os rostos cobertos por máscaras -mas assinaram emendas em seus gabinetes e receberam comissões que saíram da merenda e do sangue superfaturados. Depois disso, o que ainda falta? Comer criancinhas?
Quando identificou 300 picaretas no Congresso, Lula foi otimista. E queimou a língua: agora eles fazem parte da sua base de apoio parlamentar e de seus palanques. Como diria o Zé Dirceu, tudo pela causa! Pela calça, no caso de Lula.


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