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NELSON MOTTA
Na boca de espera
RIO DE JANEIRO - O que acontece a um parlamentar que é flagrado
com a mão na massa e a boca na botija e é cassado ou renuncia?
Nada. O Supremo Tribunal Federal jamais condenou um único e escasso parlamentar, por mais robustas e cabeludas que fossem as provas dos crimes cometidos. O único
efeito prático de uma renúncia ou
cassação é o suplente comprar um
terno novo e dar uma festa em seu
apê. Para o partido, ou quadrilha,
não muda nada, só um nome.
Mas quem são esses suplentes?
No Brasil de hoje, não dá para ter
ilusões: alguém duvida de que os suplentes serão ainda piores do que os
mensaleiros e sanguessugas titulares?
Pena que os suplentes sejam
completamente ignorados pela imprensa e fiquem à vontade para dar
continuidade à obra do titular. Afinal, eles herdam o "ponto", os funcionários e a clientela do antecessor. E certamente devem compartilhar das mesmas crenças, valores e
métodos. Todo cuidado com eles é
pouco, são vorazes e capazes de tudo, estão famintos e ávidos para
desfrutar da "bocada" longamente
esperada.
Alguém consegue imaginar um
grupo de deputados e vereadores
assaltando um caminhão de merenda escolar ou roubando frascos de
sangue de hospitais públicos? Mas
isso já aconteceu, é fato: eles não assaltaram pessoalmente, à mão armada, montados em cavalos e com
os rostos cobertos por máscaras
-mas assinaram emendas em seus
gabinetes e receberam comissões
que saíram da merenda e do sangue
superfaturados. Depois disso, o que
ainda falta? Comer criancinhas?
Quando identificou 300 picaretas no Congresso, Lula foi otimista.
E queimou a língua: agora eles fazem parte da sua base de apoio parlamentar e de seus palanques. Como diria o Zé Dirceu, tudo pela causa! Pela calça, no caso de Lula.
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