São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Nosso Exército

CARLOS DE MEIRA MATTOS

O BRASIL atravessa, ninguém pode ignorar, um período desmoralizante para os principais órgãos do poder público. A corrupção envolveu a cúpula do Executivo, chega a ponto de desmanchar o Legislativo, enche de manchas vários setores do Judiciário, atinge de males infecciosos governos estaduais e municipais e, com raríssimas exceções, destrói a confiança nas empresas estatais. Fora dos órgãos públicos, até as instituições religiosas, que eram um esteio da moralidade e dos bons costumes, estão contaminadas. Diante desse quadro vergonhoso, merece uma apreciação justa o comportamento irrepreensivelmente limpo, sem nenhuma nódoa, de nosso Exército, cumprindo rigorosamente seus deveres constitucionais de defesa nacional e de segurança interna (estendemos essa mesma apreciação a nossa Marinha e à Força Aérea).


Diante desse quadro vergonhoso, merece uma apreciação justa o comportamento irrepreensível do Exército


No âmbito da defesa externa, apesar dos escassos recursos financeiros de que dispõe, vem, por meio de suas excelentes escolas de nível superior -Escola de Estado Maior, Instituto Militar de Engenharia, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais-, acompanhando a evolução da guerra moderna e dos conflitos armados, preparando os quadros de oficiais para a eventualidade de um conflito bélico, do qual nenhuma nação soberana deve afastar as suas preocupações. Na execução da defesa externa, a vigilância e a proteção de nossas imensas fronteiras (com dez diferentes países) são missões que vêm sendo cumpridas rigorosamente -muitas vezes, impondo sacrifícios inimagináveis às frações de tropa que as mantêm. É o caso das dezenas de pelotões de fronteira da Amazônia, isolados na selva bravia, não raro endêmica, vivendo na dependência exclusiva do apoio aéreo da FAB, que nunca faltou. A segurança interna, delegada constitucionalmente ao Exército, é missão que não se pode confundir com a segurança da ordem pública, atribuição dos organismos policiais. Segurança interna representa proteger o Estado contra movimentos maiores que ameacem as suas instituições democráticas, a sua unidade política, a sua estrutura federativa. No cumprimento desse mister, preventivamente, o Exército mantém um dispositivo de cobertura em cada Estado da Federação, sediando um quartel em cada capital. Muitas vezes, o Exército é chamado para cumprir missões complementares, não estritamente constitucionais, como a de socorrer populações assoladas pela brutalidade da inclemência climática, a de assegurar proteção a eventos internacionais de grande relevância ou de interesse do desenvolvimento das regiões mais longínquas e desabitadas de nosso território. Sempre que um cataclismo da natureza assola uma região, sacrificando seus moradores, nossos soldados são os primeiros a serem chamados para socorrer populações desabrigadas, reconstruir pontes, moradias e vias destruídas pelo ímpeto das intempéries. Por ocasião de conferências internacionais de grande importância, com a presença de chefes de governo e perigos de sabotagens e agressões a convidados, como tem acontecido em outros países, também nosso Exército tem sido convocado para garantir a segurança e assegurar o bom êxito do evento e a respeitabilidade do Brasil. A cobertura e a proteção que tem oferecido a esses eventos têm merecido sempre elogiosas referências dos participantes estrangeiros. No tocante ao apoio ao desenvolvimento das regiões interioranas mais afastadas, desprovidas de comunicações e de energia -Amazônia e Centro Oeste-, ali está o Exército com sua engenharia de construção, cinco batalhões distribuídos pelos pontos mais críticos, construindo estradas, ferrovias, campos de pouso etc. Enfim, atendendo, nos lugares por onde opera, as inúmeras necessidades de uma população carente de tudo -socorro médico, medicamentos, energia elétrica etc. Finalizando, queremos lembrar aos brasileiros a atuação do Exército no cumprimento da razão fundamental de sua existência, a defesa nacional, na sua principal campanha mais recente, a participação na 2ª Guerra Mundial, na Itália, no teatro de operações do Mediterrâneo. A nossa Força Expedicionária (FEB), comandada pelo general Mascarenhas de Morais, além dos significativos elogios que recebeu dos generais Mark Clark e Crittenberger, aos quais esteve subordinada, mereceu do presidente Roosevelt, na sua mensagem anual à nação (1945), especial referência, sendo destacada, junto apenas com os norte-americanos e ingleses, pela excelência de sua operacionalidade.
CARLOS DE MEIRA MATTOS , 93, doutor em ciência política e general reformado do Exército, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra.


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