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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Veneno eleitoral
SÃO PAULO - Há um mês, Alckmin aparecia só quatro pontos atrás
de Marta, em situação de empate
técnico. Tinha 21 pontos à frente de
Kassab. O quadro então sugeria
mais uma disputa polarizada entre
PT e PSDB. Em 30 dias tudo mudou. Marta se isolou na liderança,
com 17 pontos sobre o tucano. Em
queda, ele já viu sumir mais da metade do caminho que o distanciava
de Kassab -agora só dez pontos os
separam, mostrou o Datafolha.
Não resta muita dúvida de que
nos próximos 40 dias, até o 1º turno,
a batalha decisiva da campanha se
dará entre o piso de Alckmin e o teto de Kassab. Não é à toa que Marta
esteja tão à vontade, quase uma espectadora da disputa dos outros.
Seu próprio programa de TV sugere isso quando nos conta que ela
se "arrebata" desde criança com a
imagem noturna de São Paulo. O
tom contemplativo, a visão extasiada (da cidade, mas também de si
mesma), o encantamento e a confissão de regozijo da candidata -tudo isso não deixa de ecoar o "relaxa
e goza", mas agora com sinais trocados, em benefício dela, como se do
veneno da frase estúpida a propaganda extraísse seu remédio.
Com Alckmin se passa o contrário. Ele transforma o remédio em
veneno. Depois de arrancar de Serra uma declaração gravada de apoio
e exibi-la na estréia do horário eleitoral, o tucano, ato contínuo, decide
explorar na TV a calamidade da
saúde na administração Serra/ Kassab. A mensagem é esquizofrênica.
O anestesista parece a todo instante
paralisar o seu próprio discurso.
Sem dinheiro, sem máquina e
sem a estrutura de marketing do
PSDB paulista (Kassab pegou), a
campanha tucana dá sinais visíveis
de "petebização". Não é só a pobreza estética do programa na TV, o fato de que a careca do candidato esteja mal iluminada. Isso pode até
ser charmoso diante de outra precariedade, mais substantiva. Alckmin é hoje um cão sem plumas. O
lastro político de sua candidatura
não está no tucanato. Campos Machado, Saulo, Chalita, Sérgio Mallandro -essa é a turma da pesada.
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