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TENDÊNCIAS/DEBATES
Flamingos e leão
JOÃO HERRMANN
Os flamingos são belos bípedes
que abundam no Caribe, aliás palco também de paraísos fiscais. O leão,
carnívoro exótico para o Brasil, é símbolo do nosso eficiente Imposto de Renda. Saindo do mundo animal, que em
pequena mas significativa parte frequenta o título deste artigo, vamos ao
mundo dos homens, onde há espécimes
nativos, em abundância, a serem observados.
A Folha, em criteriosa pesquisa, feita
pelos seus jornalistas responsáveis e investigativos, publicou reportagem, em
sua edição de 9/9, sobre candidatos e
seus patrimônios ("Políticos têm R$
2,871 bi de patrimônio declarado", Eleições, pág. 5). Como a lei obriga os que
pretendem ocupar cargos públicos a declarar seus bens e renda, nada mais legítimo do que tornar público o declarado
pelo candidato. Ponto para a Folha.
Ora, a lei também obriga todos os cidadãos que auferirem rendimentos ou
movimentarem recursos no país ou fora
dele a os declarem para a Receita Federal. Pena que nem todos o façam, e muitos, nas asas dos flamingos, fujam dos
dentes do leão.
Uma sociedade injusta esgarça o tecido social e apequena o Estado, violentando os mais pobres e tornando reféns
os mais ricos. Um adolescente no morro, um desempregado na periferia, um
sem-teto num cortiço, um aposentado
doente ou uma viúva mãe de tantos são
as vítimas da nossa "Intifada". Um carro importado, uma noite jovem festejada, uma roupa dos Jardins, um triplex,
uma coluna social ou uma exibida ostentação são as atrações na vitrine da
nossa "Colômbia".
Sou pai de cinco filhos, um com apenas quatro anos de idade, e avô de sete
netos, as últimas duas gêmeas, nenês.
Sou igual a tantos e milhares de outros
pais, mães e avós deste Brasil pérfido e
cruel na sua estrutura social. Não quero
me blindar a tamanha injustiça e violência, ao contrário, quero lutar contra ela.
Tenho que fazer crer aos que temem os
instrumentos do crime, o sequestro, as
ameaças, que se abatem ao medo que
ser dócil ao leão é menos perigoso que
alimentar os flamingos.
"Last, but not least", temos uma cultura vicejada de mentiras, que de tanto ditas frequentam o mundo da verdade.
Uma sociedade injusta esgarça o tecido social, violentando os mais pobres e tornando reféns os mais ricos
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Entre muitas delas, que atingem indistintamente todas as profissões, estão as
que maculam a honra de advogados,
padres, médicos, funcionários públicos,
jornalistas e, abundantemente, de políticos. São poucos os que ilustram as
mentiras, mas estes fazem com que elas
adquiram as faces da verdade.
Ao meu lado tenho, há mais de 25
anos, verdadeiros e completos exemplos de comportamento digno e probo.
Orgulho-me da maioria dos políticos
brasileiros, que devessem dar, a André
Franco Montoro, o título de patrono.
Porém, num mundo onde a beleza é o
rufar do flamingo e assustador é o urrar
do leão, temos que mostrar aos que elegem que quem foge do belo e se assanha
com o leão não está se arriscando a ser
devorado, mas está abandonando a fragilidade da natureza para combater a
dureza da vida.
A Folha, no seu papel democrático,
começou um candente debate. Envolvi-me, com orgulho e respeito à minha
biografia, nele.
Estas reflexões são fruto do que vivi
nos últimos dias. Como tudo que se inicia, intriga. Não sei o fim. Mas já escolhi
minha companhia. Ficarei com o leão.
João Herrmann Neto, deputado federal pelo
PPS-SP, líder do partido na Câmara, é coordenador político da Frente Trabalhista.
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