|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Sem esperança
RIO DE JANEIRO - Estudantes
de jornalismo, em Curitiba, aproveitando a pausa de uma palestra
para os vestibulandos do curso Decisivo, me perguntam se há lugar
para a esperança. Com Domingos
Pellegrini e Miguel Sanches Neto,
falávamos sobre os livros que irão
cair no vestibular. O tema era exclusivamente literário, mas acima de
todos nós estava aquela "nuvem
que os ares escurece" -tal como
disse Camões no começo do episódio do Adamastor.
Na realidade, por mais redundante que seja, não há como evitar a situação nacional. Não se trata de um
arroubo moralista, muito menos de
um prejuízo material que coloque a
nação em véspera de uma quebradeira econômica e financeira.
Embora distante de uma tranqüilidade nesses setores, o país atravessa um período relativamente estável. Não é por aí que o desânimo, e
até mesmo a revolta, nos abate o
ânimo e nos coloca numa das fossas
mais prolongadas de nossa história.
Deus poupou-me o sentimento
da esperança, de maneira que não
precisei pensar muito para responder aos jovens. E, como Deus nunca
tarda e quase sempre falha, no dia
seguinte, li a declaração de Lula,
afirmando que não há prova que
justifique a cassação de seu homem
forte, seu ex-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu.
O mesmo Lula acha que não há
provas contra o Renan Calheiros e
conclamou a nação a respeitar a decisão do Senado que absolveu o presidente daquela Casa, na base do
"causa finita".
No caso de Dirceu, condenado,
Lula discorda da decisão que o cassou. Declarava que não sabia de nada, mas "sabe" que ele é inocente.
No caso de Renan, diz que não há o
que discutir sobre a decisão da
maioria do Senado. Por essas e por
outras, não há espaço para a virtude
que nos dá o dom de suportar o
mundo.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Zuanazzi, duro na queda Próximo Texto: Marcos Nobre: O estranho caminho de Santiago Índice
|