São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

Sem esperança

RIO DE JANEIRO - Estudantes de jornalismo, em Curitiba, aproveitando a pausa de uma palestra para os vestibulandos do curso Decisivo, me perguntam se há lugar para a esperança. Com Domingos Pellegrini e Miguel Sanches Neto, falávamos sobre os livros que irão cair no vestibular. O tema era exclusivamente literário, mas acima de todos nós estava aquela "nuvem que os ares escurece" -tal como disse Camões no começo do episódio do Adamastor.
Na realidade, por mais redundante que seja, não há como evitar a situação nacional. Não se trata de um arroubo moralista, muito menos de um prejuízo material que coloque a nação em véspera de uma quebradeira econômica e financeira.
Embora distante de uma tranqüilidade nesses setores, o país atravessa um período relativamente estável. Não é por aí que o desânimo, e até mesmo a revolta, nos abate o ânimo e nos coloca numa das fossas mais prolongadas de nossa história.
Deus poupou-me o sentimento da esperança, de maneira que não precisei pensar muito para responder aos jovens. E, como Deus nunca tarda e quase sempre falha, no dia seguinte, li a declaração de Lula, afirmando que não há prova que justifique a cassação de seu homem forte, seu ex-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu.
O mesmo Lula acha que não há provas contra o Renan Calheiros e conclamou a nação a respeitar a decisão do Senado que absolveu o presidente daquela Casa, na base do "causa finita".
No caso de Dirceu, condenado, Lula discorda da decisão que o cassou. Declarava que não sabia de nada, mas "sabe" que ele é inocente. No caso de Renan, diz que não há o que discutir sobre a decisão da maioria do Senado. Por essas e por outras, não há espaço para a virtude que nos dá o dom de suportar o mundo.


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