A edição da última semana do periódico britânico "Nature" trouxe o resultado de mais um seqüenciamento -o 34º- do genoma humano. Outros virão. Ainda restam cerca de 20% do total por transcrever. De todo modo, o que já se avançou permite afirmar que o número de genes do ser humano é ainda menor do que se imaginava. Estima-se agora que sejam entre 20 mil e 25 mil, contra os 30 mil a 40 mil presumidos quando do primeiro rascunho, em 2001. Antes, manuais de biologia falavam em mais de 100 mil genes.
O genoma humano é a seqüência de mais de 3 bilhões de unidades químicas que formam o DNA da espécie, a molécula que armazena o material genético dos seres vivos.
A descoberta deverá promover uma revisão de conceitos. Vale lembrar que o gene, visto como uma unidade fechada, determinante de uma proteína específica, não tem existência física. É, antes, uma construção teórica que já conta com mais de um século e que pode estar caducando, apesar do notável florescimento de pesquisas no campo da genética nas últimas décadas. Atualmente, o gene é definido como a parte do material genético que dá instruções para a fabricação de uma proteína, os compostos químicos que regulam todos os processos biológicos.
De modo algo paradoxal, quanto menor for o número de genes no homem, mais complexa deve ser sua biologia molecular. Se os genes são apenas 20 mil, torna-se impossível explicar o repertório de mais de 100 mil proteínas da espécie humana sem recorrer às funções reguladoras de seqüências que não codificam nenhuma proteína e eram chamadas até havia pouco de "DNA lixo".
A noção de que cada gene é responsável por uma característica, como a cor dos olhos, deverá ser abandonada. Em termos práticos, as primeiras interpretações do genoma sugerem que será mais difícil do que se imaginava desenvolver terapias milagrosas que curariam doenças apenas ativando ou desativando um gene.


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